Roland Barthes, Lição
Io credo nelle persone, però non credo nella maggioranza delle persone. Anche in una società più decente di questa, mi sa che mi troverò a mio agio e d'accordo sempre con una minoranza. (Nanni Moreti)
Acerca de mim
sexta-feira, 3 de junho de 2011
Literatura
«A literatura ocupa-se de muitos saberes. Num romance como Robinson Crusoé existe um saber histórico, geográfico, social (colonial), técnico, botânico, antropológico (Robinson passa da natureza para a cultura). Se por um qualquer excesso de socialismo ou de barbárie todas as nossas disciplinas fossem retiradas do ensino, exceptuando uma, a literatura deveria ser a disciplina salvaguardada, porque todas as ciências se encontram disseminadas no monumento literário. E é por isso que se pode dizer que a literatura, qualquer que seja a escola em nome da qual se manifeste, é absoluta e categoricamente realista: ela é a realidade, realidade essa que é um luar do real. Todavia, e nesse aspecto é verdadeiramente enciclopédica, a literatura desvaira os saberes, não estabelece ou fetichiza nenhum deles; concede-lhes um lugar dissimulado e essa dissimulação é preciosa. Por um lado, permite designar saberes possíveis - insuspeitos, inacabados: a literatura trabalha nos interstícios da ciência: está sempre para além ou aquém dela, tal como a pedra de Bolonha que irradia à noite o brilho que acumulou durante o dia e com esse luar ténue ilumina o novo dia que desperta. A ciência é grosseira, a vida é subtil, e a literatura interessa-nos na medida em que tende a corrigir essa distância, essa diferença. Por outro lado, o saber que a literatura mobiliza nunca é nem completo nem tão pouco conclusivo; a literatura não diz que sabe alguma coisa, mas que sabe de alguma coisa; ou melhor: que conhece alguma coisa acerca desse saber, que sabe muito sobre os homens. O que ela conhece acerca dos homens é aquilo a que poderíamos chamar o grande emaranhado de linguagem, que eles manipulam e que os manipula, quer ela reproduza a diversidade dos sociolectos, quer, a partir dessa diversidade que experimenta como um despedaçamento, imagine e procure elaborar uma linguagem-limite que fosse o seu grau zero. É porque a literatura põe em cena a linguagem, em vez de simplesmente a utilizar, que engrena o saber no mecanismo da reflexividade infinita: através da escrita o saber reflecte continuamente sobre o saber, segundo um discurso que já não é epistemológico, mas dramático.»
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário