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Oeiras, Portugal
Aluno e Professor. Sempre aluno.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Quintus Horatius Flaccus


O homem justo e tenaz no seu propósito,
em sua firme mente não se perturba
com o furor dos cidadãos impondo a injustiça
nem com o vulto do ameaçador tirano

nem com o Austro, o inquieto senhor do revolto Adriático,
nem com a poderosa mão do fulminante Júpiter;
e se o céu em pedaços sobre ele cair,
impávido o hão-de atingir suas ruínas.

Foi com esta virtude que Pòlux e o errante Hércules,
ascendendo, as cidadelas do fogo alcançaram;
entre eles, reclinado, beberá Augusto
o néctar com seus lábios de púrpura.

Foi com esta virtude e por mérito teu, pai Baco,
que a ti te levaram os teus tigres, nos indomáveis pescoços
um jugo trazendo; com esta virtude do Aqueronte fugiu
Quirino nos cavalos de Marte,

quando Juno tais palavras pronunciou,
gratas ao concílio dos deuses: "Ílion, Ílion,
um juiz devasso pelo destino trazido,
e uma mulher estrangeira a pó te reduziram.

No dia em que Laomedonte os deuses ludibriou
com a promessa de um pagamento, condenada foste
por mim e pela casta Minerva,
junto com teu povo e mentiroso senhor.

Já não resplandece o infame hóspede
da adúltera espartana, nem a perjura casa de Príamo
sem o auxílio de Heitor
pode já suster os aguerridos Aqueus,

e esmorece a guerra prolongada
pelos nossos conflitos. De agora em diante a Marte
minha grave ira, e meu odiado neto,
nascido da sacerdotisa troiana,

abandonarei. Suportarei que ele
nas luzentes moradas entre, que do néctar beba
o sumo, que inscrito seja
nas serenas ordens dos deuses.

Enquanto entre Ílion e Roma furioso
o mar se agitar, que felizes reinem esses exilados,
em qualquer que seja a parte do mundo.
E enquanto o gado o túmulo pisar

de Príamo e Páris, e aí impunemente esconderem as feras
seus filhotes, que o Capitólio refulgindo de pé permaneça,
e possa a feroz Roma prescrever suas leis
aos Medos derrotados em triunfo.

Que Ela, ao longe e ao largo temida, o seu nome espalhe
pelas mais distantes margens, lá onde a água, entrepondo-se,
a Europa separa da África, lá onde o Nilo
inchando os campos irriga.

E que corajosa seja em desprezar o ouro não descoberto
(pois é melhor assim, quando a terra o esconde)
mais do que em amontoá-lo para uso do homem,
que cm sua mão tudo o que é sagrado devasta.

E seja qual for a fronteira que se oponha ao mundo,
que Ela com suas armas a alcance, anelando por ver
o sítio onde o fogo, as nuvens e o orvalho da chuva
suas báquicas orgias têm.

Mas tais fados sob condição aos belicosos Romanos
vaticino: que piedosos ou confiantes demasiado
refazer não queiram
os tectos da ancestral Tróia:

renascendo, sob lúgubre augúrio, de Tróia
a fortuna, de novo em terrível desgraça acabará,
conduzindo eu própria, esposa de Júpiter
e sua irmã, os vitoriosos esquadrões.

E se, por obra de Febo, três vezes reconstruído for
seu brônzeo muro, três vezes será destruído e arrasado
pelos meus Argivos: três vezes chorará
a cativa mulher seu marido e filhos".

Tal canto não convém a minha jocosa lira:
Musa, para onde vais? Deixa, teimosa, de contar
as conversas dos deuses, e de reduzir
grandes temas a pequenos metros.


Horácio, Odes, III, 3

domingo, 17 de janeiro de 2010

Ni plaisanterie, ni paradoxe. La raison m'inspire plus de certitudes sur le sujet que n'aurait jamais eu de colères un jeune-France. Du reste, libre aux nouveaux! d'exécrer les ancêtres: on est chez soi eu l'on a le temps.
On n'a jamais bien jugé le romantisme; qui l'aurait jugé? Les critiques!! Les romantiques, qui prouvent si bien que la chanson est si peu souvent l'oeuvre, c'est à dire la pensée chantée et comprise du chanteur?
Car Je est un autre. Si le cuivre s'éveille clairon, il n'y a rien de sa faute. Cela m'est évident: j'assiste à l'éclosion de ma pensée: ja la regarde, je l'écoute; je lance un coup d'archet: la symphonie fait son remuement dans les profondeurs, ou vient d'un bond sur la scène.
Si les vieux imbéciles n'avaient pas trouvé du Moi que la signification fausse, nous n'aurions pas à balayer ces millions de squelettes qui, depuis un temps infini, ont accumulé les produits de leur intelligence borgnesse, en s'en clamant les auteurs!

Rimbaud, «Lettre à Paul Demeny du 15 mai 1871»

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Listas

O meu amigo Carlos fez-me um convite. A lista que segue resulta das minhas escolhas, diante dos discos de vinil de que nunca me separei. Pelo meio, acho que podia ter feito outras listas. Esta é uma, a que me passou pela cabeça nesta altura.

22. Gabriela Schaaf, «Vídeo»

A RTP organizou um conjunto de programas cujo objectivo era pedir aos espectadores que votassem na música de que mais tinham gostado nas história dos festivais da RTP. Confesso que me fiquei pela ideia e que não perdi tempo a ouvir as coisas que o público haveria de escolher. Foi a ideia que me cativou. Imaginei qual seria para mim a minha música preferida dos festivais. Num instante, lembrei da Gabriela Schaaf. Todas as estrelas cintilam, esta contilou intensamente em meia dúzia de anos e desapareceu. Eu continuo à procura do seu rasto...

Gabriela Schaaf, "Eu só Quero"

21. Madredeus, «Os Dias da Madredeus»

Já não me lembro qual o grupo que ia ver naquele dia de 1987 em que me desloquei à Aula Magna. Dessa noite só recordo o grupo que fez a sua primeira aparição pública, como grupo convidado para a primeira parte: Madredeus. Imagino que não seja o único a lembrar-se mais daquela primeira parte do que propriamente do concerto que estava marcado para os "cabeças de cartaz". Na verdade, Madredeus foi um amor à primeira vista, só que daqueles que se prendem à pele, para nunca mais se perderem...

Madredeus, "A Cidade"

20. Setima Legião, «A Um Deus Desconhecido»

Lembro-me de um concerto na Estufa Fria em 1984 onde se anunciava um grupo novo: os Sétima Legião. A minha impressão do grupo foi a da entrada das gaitas de foles em palco e do efeito que produziam. Os Sétima são ainda hoje (e sempre) um dos grupos da minha vida. Traziam actualizações de coisas que na altura ouvia e que continuo a ouvir.

Sétima Legião, "A Partida (versão)

19. Amália Rodrigues, «Os Poetas»

Gosto de fado. Para mim, podem existir muitas vozes de fado, mas a voz de Amália Rodrigues é a voz que me identifica com a minha nacionalidade. Coisa estranha, mas apenas aparentemente contraditória em alguém que não tem pela ideia nacionalista qualquer espécie de simpatia... Ainda assim, quando ouço Amália Rodrigues há algo que me vem das entranhas e que me torna ainda mais contemplativo do que aquilo que já sou por natureza.

Amália Rodrigues, "Com que Voz"

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

18. Bruce Springsteen, «Born in the USA»

Não seria capaz de deixar de escolher este disco. Ouvi-o tanto que me parece estar a "grelhar" quando a agulha passa por ele... Foi uma altura em que tinha acabado de ver «Apocalipse Now» e havia várias coisas que encaixavam. Enfim, política...

Bruce Springsteen, "Born in the USA"

17. U2, «Boy»

Ultimamente não tenho ouvido muito os U2. Confesso que, embora goste do grupo, com o tempo, fui-me afastando. Contudo, o álbum «Boy» será sempre para mim um dos mais significativos da minha vida. Eu era um rapazinho de 15 anos quando este álbum fi lançado e o ouvia ansiosa e diariamente num programa da Rádio Comercial, chamado "Rock em Stock". Acho que houve coisas que se modificaram em mim.

U2, "I Will Follow"

16. Altered Images, «Pinky Blue»

Muito pop, muito 80's, muito lá de minha casa. É assim que ainda hoje sinto os Altered Images. Além disso, são "luminosos" e dispõem-me sempre bem.

Altered Images, "I Could Be Happy"

15. Bananarama, «True Confessions»

Aqui está mais um disco pop. Sempre achei que só há verdadeiramente uma banda feminina: as Bananarama.

Bananarama, "In the Trick of the Night"

14. Paco de Lucia, «Concierto de Aranjuez»

Este disco lembra-me sempre a Espanha da minha infância, percorrida de automóvel ao encontro de familiares. Não era absolutamente necessário que houvesse um destino, o percurso era o importante. Haverá sempre uma Espanha minha.

13. Patricia Kaas, «Scène de Vie»

A Patricia Kaas é uma das cantoras de que mais gosto. Ao vigor da sua voz, sempre me pareceu adivinhar uma alma em tumulto. O resultado é, para mim, muito bonito e em francês.

Patricia Kaas, "Les Hommes qui Passent"

12. Luca Carboni, «Luca Carboni»

Estavaa faltar um disco italiano. A voz do Luca Carboni é daquelas que trago sempre por perto, em casa, no carro, onde calha. Tinha de escolher um disco italiano. Escolhi o Carboni, como poderia ter escolhido outro. São as memórias mais uma vez que conduzem as minhas escolhas. E os afectos também.

Luca Carboni, "Farfallina"

11. José Afonso, «Cantigas do Maio»

Existe uma época do ano em que regresso sempre em peregrinação a este disco. É nas coisas mais simples que o brilho mais nos ofusca.

José Afonso, "Cantigas do Maio"

10. Everything but the Girl, «Baby, the Stars Shine Bright»

Sempre gostei de música pop. A minha costela pop, encontra conforto em muitos grupos dos meus anos 80, mas escolhi os Everything. Gosto muito do ambiente, da harmonia. Para mim, é tudo bonito.

Everything but the Girl, "Come on Home"

9. Virginia Astley, «Hope in a Darkened Heart»

Foi num Natal longíquo que ouvi pela primeira vez este álbum. Ainda hoje fico preso ao encantamento doce que ele produz em mim. Gosto da voz suave da Virginia Astley que aqui tem uma companhia de luxo.

Virginia Astley

8. Some Like it Hot

Sempre gostei de musicais dos anos 40 e 50. A Marilin canta de uma forma única e é nas contradições do que diz cantando que se revela ainda mais encantadora. Para compreendermos a vida, temos de, em primeiro lugar, compreender que "ninguém é perfeito".

7. Stewart Copeland, «Rumble Fish»

Esta é a música de mais um filme. Um filme que fala de uma energia bruta, mas silenciosa. Uma energia que julgamos possuir apenas numa fase precoce das nossas existências, mas que permanece. Eu trago-a comigo.

The Smiths, «The Smiths»


6. The Smiths

"Tudo o que desejo sublinhar é o princípio segundo o qual a Vida imita a Arte muito mais do que a Arte imita a Vida, e estou certo de que, se pensares a sério na questão, verás que é verdade. A Vida ergue um espelho em frente à Arte, e, ou reproduz algum tipo estranho imaginado por qualquer pintor ou escultor, ou realiza de facto aquilo que foi sonhado na ficção. De um ponto de vista científico, a base da vida - a energia da vida, como lhe chamaria Aristóteles - é simplesmente o desejo de expressão, e a Arte está continuamente a apresentar várias formas através das quais uma tal expressão pode ser conseguida."

Vivian a Cyril, no diálogo que mantêm em «O Declínio da Mentira», de Oscar Wilde

Real around the fountain

5. Ry Cooder, Paris, Texas

Mais um filme. Outra história de amor. Desta vez de destinos trocados e tristes, de pessoas que vagueiam, sem destino, porque provavelmente não souberam reconhecer os sinais adequados no tempo certo. É a vida…

Ry Cooder, Paris, Texas

4. Tom Waits and Crystal Gayle, One from the heart

Sempre tive um fraquinho por histórias de amor. De preferência, que acabem mal e que sejam tristes. Este disco contém a banda sonora de um filme, cuja história de amor acaba bem. Só sei que o seu feitiço permanece. Podemos viver com muitas preocupações, com muitas tarefas para cumprir, mas o amor tem sempre um lugar central naquilo que fazemos.

3. Frank Sinatra, Sinatra at the Sands

O tempo pode passar, o meu cabelo pode ficar grisalho, mas, ontem como hoje, o Sinatra é o Sinatra e, parafraseando José Duarte, só ele me faz mesmo dançar.

W. A. Mozart, Krönungsmesse

O meu espírito individualista vacila quando ouço vozes como estas que se encontram num lugar qualquer. Esse encontro, se é que se dá mesmo, terá de ocorrer num espaço mágico, em transcendência. É para aí que aponto.

2. Sanctus & Benedictus (Krönungsmesse KV 317)

Are you going with me?

1. Pat Metheny, Travels, 1983




Há discos que me acompanham quase desde que me conheço e não sei porquê. Travels é a minha fonte e o meu refúgio absoluto. Quando penso no grande Pat, é neste disco que repousam as minhas memórias. É estranho, mas é comigo que me encontro quando ouço Travels. Há discos que são capazes de operar o milagre da recuperação do tempo passado.