Para conhecermos os homens, é preciso isolá-los. O fundo dourado (ou cinzento) isola naturalmente. Esse isolamento cancela, apaga todas as diferenças, as pequenas, ínfimas e grandiosas diferenças de toda a coisa por relação a cada coisa, porque as faz descolar, sem peso, sem o peso da terra, para o avesso de uma paisagem, não-lugar para onde nos desterram as expressões da subjectividade pura, do puro espírito.
Se conhecer é um acto de isolamento, então é uma forma de colocar os homens diante do indeterminado. Mas conhecer comporta graus: o conhecimento amadurecido descobre entre os homens as suas relações, prepara a transformação do indeterminado, mesmo aquele de ouro puro, em paisagem. Em rigor, não se passa para lá da preparação, pois as cinzas caem sem cessar, as cinzas chamam-nos, inundam, apagam constantemente a paisagem. Vale-nos o recurso ao ouro, em cuja alquimia as cinzas começam a brilhar, e a escuridão insondável se torna em insondável beleza.»
Maria Filomena Molder, A Imperfeição da Filosofia
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