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Oeiras, Portugal
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quarta-feira, 18 de maio de 2011

Ode I, 3

   Assim a diva rainha do Chipre,
assim os irmãos de Helena, luzentes estrelas,
   assim o pai dos ventos,
apresando todos excepto o Iápix,

   te conduzam, navio, tu que a ti próprio
Vergílio deves em empréstimo, suplico,
   que o devolvas, incólume, às fronteiras da Ática,
e que preserves a minha alma metade.

   Carvalho e triplo bronze tinha
em seu peito aquele que primeiro arremeteu
   frágil seu barco ao cruel pélago,
não receando nem o impetuoso Áfrico,

   que com os ventos de Áquilo peleja,
nem as tristes Híades, nem a fúria de Noto:
   maior juiz não há no Adriático,
a seu bel-prazer as ondas elevando ou amainando.

   Temeu os inexoráveis passos da morte
aquele que de olhos enxutos monstros viu a nadar,
   e o mar encapelado,
e os mal afamados rochedos de Acroceráunios?

   Em vão o previdente deus
a terra do incompossível oceano separou,
   se ainda assim ímpios os navios
sulcam os mares que jamais deveriam ser cruzados!

   A humanidade, temerária
até no sofrimento, precipita-se no erro proibido.
   Temerário o filho de Jápeto
o fogo aos homens, com funesta perfídia, trouxe,

   e depois de o ter furtado
de sua celeste morada, sobre a terra se estendeu
   a fome e um exército novo de febres,
e a necessidade da morte, outrora tão vagarosa

   e remota, o seu passo aligeirou.
Aventurou-se pelo ar vazio Dédalo
   com asas ao homem não concedidas:
foi empresa de Hércules no Aqueronte irromper.

   Para os mortais nada há de difícil:
estultos o próprio céu reclamamos,
   nem permitimos, por nosso crime,
Júpiter iracundos depor seus raios.

Horácio, Odes, I, 3

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