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sábado, 7 de maio de 2011

A louçã agulha da avó.

A louçã agulha da avó.
A melopeia libélula do trevo.
O gasómetro, um tamanco,
a serpentina enrolada,
tralha, vassoura.
Um trino o alinhavo e o dedal.
Sótão, traje de cassa.

Insanável tesouro. Uma pomada.
Apronto-lhe a tisana e a botija.
Remendo o penteado ralo.

A eito uma cancela.
o afinco do rebanho rumina.
Um atavio cingiu-a.
Cera na lápara nogueira.
Assoma a brandura e afugenta.
Fareja na alvenaria.
Aproxima e empurra-te,
vaivém, candil, ataúde.

Bolo da sertã em banha
e o perfeito, de farinha cártama.
O arcaico miolo,
a indolente claraboia,
o porte do ganso na capoeira.

Almofariz envernizado,
a mó plana de rebolo
rala a cevada e o milho,
a broa meada na camilha.
A sorça a vinho e alho,
a pimenta, o louro, o colorau,
uma tira de pimento queimão
amainam no fumeiro.

Almenar de folhelho,
bulício soalheiro do curral.
A alpedrada precede o louceiro.
Toucinho na salmoura,
salpicão, paio, farinheira.
Tulha e grinalda.
A perruma de farelo.
Na seara do centeio
a relha dentada de falquejo.

A monda da nabiça na açorda,
o móvel da copa delimita a cozinha
e o perdão.

Joaquim Manuel Magalhães, Um Toldo Vermelho

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