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domingo, 29 de maio de 2011

Castanheiro

«Em frente das colunas geminadas do arco romântico do mosteiro de Mariabronn erguia-se um castanheiro, nobre árvore de tronco poderoso, solitário filho do Sul, trazido outrora de Roma por um peregrino; exposto ao vento o largo peito, debruçava fagueiro a copa sobre a estrada e, quando na Primavera tudo em redor vicejava e já as nogueiras da cerca se revestiam de folhagem avermelhada, ainda ele demorava a folheação; só mais tarde, no tempo das noites curtas, desabrochavam por entre tufos de folhagem os jactos bizarros das suas desmaiadas flores de cor branco-esverdeada, de tão acre, pungente e nostálgico aroma; em Outubro, após as colheitas da fruta e do vinho, deixava cair da copa amarelecida pelo vento outonal os frutos eriçados de espinhos, que nem todos os anos amadureciam e por cuja posse brigavam os rapazes do convento; o vice-prior Gregório, oriundo da Itália, assava-os à lareira da sua cela. Estranha e meiga, a bela árvore baloiçava ao vento a frondosa ramagem à entrada do mosteiro; hóspede delicado e um tanto friorento, proveniente de outras paragens, secretamente aparentado com as esbeltas colunas geminadas do portal e com os ornatos dos arcos das janelas, das cornijas e dos pilares, era amado pelos italianos e outros latinos e admirado, por exótico, pelos nativos.»

Hermann Hesse, Narciso e Goldmundo

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