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segunda-feira, 30 de maio de 2011

O longe a as imagens

«O gosto pelo mundo das imagens não se alimentará de uma obscura resistência ao saber? Olho para a paisagem lá fora: o mar parece um espelho na sua baía, as florestas sobem até ao cume do monte como as massas imóveis e mudas; mais longe, as ruínas de um castelo, desde há séculos inalteradas; o céu resplandece sem nuvens, no seu azul eterno. É isto que o sonhador deseja. Que esse mar sobe e desce em biliões e biliões de ondas, que as florestas estremecem a cada momento da raíz até às folhas, que nas pedras das ruínas do castelo estão continuamente em acção forças que as fazem desmoronar-se e esfarelar-se, que no céu os gases entram em turbilhão, em lutas invisíveis - tudo isso ele tem de esquecer para se entregar às imagens. Nelas encontra serenidade, eternidade. Cada asa de pássaro que o roça, cada golpe de vento que lhe provoca um frémito, cada coisa próxima que o toca o desmente. Mas toda a distância lhe reconstrói o sonho, que se apoia em cada parede de nuvens, que se ilumina de novo com a luz de cada janela. E revela-se-lhe na sua máxima perfeição quando consegue retirar o aguilhão ao próprio movimento e transformar o golpe de vento num sussurro e a rápida passagem dos pássaros no deslizar das aves migratórias. O prazer do sonhador é o de fixar a natureza na moldura das imagens esmaecidas. O dom do poeta é o de a conjurar a cada novo chamamento.»

Walter Benjamin, Imagens de Pensamento

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