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segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Parsival

«Se o coração é habitado pela hesitação, a alma lamentá-lo-á. Vergonha e honra chocam-se onde a coragem de um homem resoluto se torna matizada como a plumagem da pega. Mas esse homem poderá ainda assim ser prazenteiro, por o Céu e o Inferno ocupam partes iguais dentro dele. O amigo da infidelidade veste-se de negro e ostenta um aspecto obscuro, enquanto o homem de temperamento leal tende para o branco.
Esta comparação alada é demasiado ligeira para os espíritos imaturos. Falta-lhes capacidade para a compreenderem e ela passa por eles como uma lebre assustada! Tal como acontece com um espelho baço ou o sonho de um cego. Assim se revela a face de contornos obscuros: mas a negra imagem não defende, apenas permite a alegria momentânea. Quem me belisca a palma da mão, onde nunca um pêlo cresceu? Deveria realmente ter aprendido a apertar a mão com firmeza! Tivesse eu gritado um receoso 'Oh!' e isso ter-me-ia marcado como tolo. Poderei eu encontrar lealdade onde ela vai desvanecer-se, como o fogo numa fonte ou o orvalho ao sol?
Por outro lado, eu tenho ainda de conhecer um homem tão sábio que ignore alegremente qual a orientação que esta história requer e a edificação que lhe oferece. O conto nunca perde o ânimo, mas foge e persegue, volta para trás e vira-se para o ataque e divide a culpa e o louvor. O homem que segue todas estas vicissitudes e que não pára muito tempo nem se perde e doutro modo sabe onde permanece, foi bem servido de engenho e juízo.
A falsa amizade conduz ao fogo e destrói a nobreza do homem como granizo. No conto a sua lealdade é tão escassa que se encontrasse moscardos na floresta eles não perderiam nem uma picada em cada três.»

Wolfram von Eschenbach, Parsival

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