Esta comparação alada é demasiado ligeira para os espíritos imaturos. Falta-lhes capacidade para a compreenderem e ela passa por eles como uma lebre assustada! Tal como acontece com um espelho baço ou o sonho de um cego. Assim se revela a face de contornos obscuros: mas a negra imagem não defende, apenas permite a alegria momentânea. Quem me belisca a palma da mão, onde nunca um pêlo cresceu? Deveria realmente ter aprendido a apertar a mão com firmeza! Tivesse eu gritado um receoso 'Oh!' e isso ter-me-ia marcado como tolo. Poderei eu encontrar lealdade onde ela vai desvanecer-se, como o fogo numa fonte ou o orvalho ao sol?
Por outro lado, eu tenho ainda de conhecer um homem tão sábio que ignore alegremente qual a orientação que esta história requer e a edificação que lhe oferece. O conto nunca perde o ânimo, mas foge e persegue, volta para trás e vira-se para o ataque e divide a culpa e o louvor. O homem que segue todas estas vicissitudes e que não pára muito tempo nem se perde e doutro modo sabe onde permanece, foi bem servido de engenho e juízo.
A falsa amizade conduz ao fogo e destrói a nobreza do homem como granizo. No conto a sua lealdade é tão escassa que se encontrasse moscardos na floresta eles não perderiam nem uma picada em cada três.»
Wolfram von Eschenbach, Parsival
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