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terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Maquiavel

«Deve ainda aquele que está numa província estranha em tudo, tal como se disse, fazer-se chefe e defensor dos vizinhos menos poderosos, tratando de enfraquecer os que o são mais, e evitando de todas as formas que nela se imiscua um forasteiro tão forte como ele. E sempre tal intervenção será de esperar da indústria os descontentes que o são por medo ou demasia de ambição; como se viu com os Etólios que introduziram os romanos na Grécia; em todo o território em que estes entraram, a ele foram chamados pelos habitantes. E a lei das coisas está em que logo que um estrangeiro forte entra numa província, a ele aderem todos os que nela têm pior estado, movidos da inveja que alimentam contra os poderosos; tanto assim é que, relativamente aos deserdados da fortuna, não tem porque afadigar-se em aliciá-los, dado que logo estão, voluntariamente, do lado do novo Estado.(...) Porque os romanos fizeram [...] aquilo que todos os príncipes sábios deveriam fazer: os quais não somente devem atender as vicissitudes presentes como também as futuras, e a todas obviar com inteira diligência: porque, prevenindo-se com grande antecipação, facilmente se lhes pode dar remédio, mas, esperando que elas nos aguilhoem, a medicina já está fora de tempo porque a enfermidade se tornou incurável, ocorre aqui o que dizem os físicos do ético, que no princípio do mal é fácil de curar e difícil de conhecer, mas que, passado tempo, desde que se não tenha logo diagnosticado e medicado, é fácil de conhecer e difícil  de curar. Assim acontece nas coisas do Estado; porque, conhecendo-se com antecipação (coisa que se não oferece senão ao homem prudente) os males que nele nascem, é possível curá-los rapidamente; mas quando, pela ignorância deles, crescem de tal modo que todos se apercebem da sua existência, é que não há mais remédio.»

Maquiavel, O Príncipe

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