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sexta-feira, 22 de abril de 2011

Dignidade

Habituámo- nos a correr ao sabor do tempo. Ao sabor da sua voragem, sem ao menos tentar compreender os sinais do tempo por que passávamos. Frequentemente ouvi dizer a pessoas das mais variadas proveniências “alguém de há-de pagar”, quando se referia alguma notícia relativa a um gasto que estivesse para além do nível da razoabilidade.
Lembro-me que, em criança, educaram-me de forma a evitar dever fosse o que fosse. Deveria aprender a viver com o que tinha, não fazendo contas àquilo que não tinha. Nesse tempo não era comum o uso do cartão de crédito e evitava-se pagar a prestações. Quando se tinha juntado o dinheiro, comprava-se.
Os tempos são outros, bem sei, e considero que são muito melhores em muitos aspectos. Não é isso que discuto. Aquilo que é preocupante é o facto de, aos poucos, termos passado a fazer parte de uma sociedade em que ninguém é o verdadeiro proprietário daquilo de que quotidianamente usufrui.
O problema maior não é o caso isolado, do senhor António, ou da senhora Maria. O problema assume proporções abissais quando esta atitude passa a ser a de um Estado e de um país inteiro. O problema maior é o da incapacidade de compreender criticamente a História e de, pelo seu escrutínio, se fazer passar o critério da acção política e económica.
Por assim termos funcionado, enquanto Estado, tornámo-nos colectivamente mendigos. Mendigos que já não sabem onde terão deixado a sua dignidade. Hoje em dia, precisamos de um exercício de memória, rigoroso e colectivo, para fazermos emergir a nossa dignidade e lembrarmo-nos que já houve tempos em que fomos bravos. Para aí chegarmos, é à História, à perspectiva histórica que recorremos e é nela que podemos encontrar lugar para a esperança.  

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