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quinta-feira, 21 de abril de 2011

Caeiro

«Segundo uma ficha biográfica redigida pelo próprio Pessoa («esse homem que inventou as biografias para as obras e não as obras para as biografias», como penetrantemente observou Adolfo Casais Monteiro: e a diferença é capital, sublinha Octavio Paz, ao estabelecer o confronto com António Machado), Alberto Caeiro da Silva nasceu em Lisboa em 1889 e aí morreu tísico, em 1915, vinte anos antes de Pessoa e um ano depois de ter surgido como heterónimo.Era um homem louro, pálido, de estatura média. Passou toda a sua curta vida numa aldeia do Ribatejo, em casa duma velha tia-avó, para onde se retirara devido a uma saúde delicada. Além de O Guardador de Rebanhos, deixou o diário poético intitulado O Pastor Amoroso e várias poesias dispersas, que Fernando Pessoa, a quem Álvaro de Campos as entregara, reuniu com o título de Poemas Inconjuntos. Aparentemente mais nada haveria a dizer sobre a vida deste homem solitário e tranquilo, que escrevia mal o português (fizera só a instrução primária) e que viveu longe de cenáculos e de salões. Só ele gozou de uma posição de indiscutível primazia na família dos heterónimos: foi o Mestre deles. Mais: como afirma categoricamente Pessoa, Caeiro foi o seu Mestre («Desculpe-me o absurdo da frase: aparecera em mim o meu Mestre»: de uma carta a Casais Monteiro, de 13 de Janeiro de 1935).
Mas qual é o «significado» da doutrina deste misterioso Mestre? Quanto a mim, prefiro considerar, com Octavio paz, que a afirmação de Pessoa, Caeiro é o meu Mestre, «é a pedra de toque de toda a sua obra. E poderia acrescentar-se que a obra de Caeiro é a única afirmação feita por Pessoa. Caeiro é o sol em volta do qual giram Reis, Campos e o próprio Pessoa. Em todos eles há partículas de negação ou de irrealidade: Reis acredita na forma, Campos na sensação, Pessoa nos símbolos. Caeiro não crê em nada: existe».»

Antonio Tabucchi, Pessoana Mínima 

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