Em 1853, Froude predisse que este livro, chegado o seu devido tempo, seria considerado o maior de todos quanto os homens escreveram. O tema, o eterno tema, é o facto de um justo poder ser feliz. Job, na sua lixeira, queixa-se e maldiz e os seus amigos aconselham-no. Esperamos raciocínios, mas o raciocínio, próprio do grego, é alheio à alma semítica e a obra limita-se a oferecer-nos esplêndidas metáforas. A discussão é árdua e porfiada. Nos capítulos finais, a voz de Deus fala de um remoinho e condena por igual aqueles que o culpam ou o justificam. Declara que é inexplicável e de uma forma indirecta compara-se com as suas mais estranhas criaturas, o elefante (o Behemoth, cujo nome, como o das Escrituras, é plural, dado que significa «animais», por ser tão grande) e a baleia, ou Levietã. Max Brod, em Heidentum, Christentum, Judentum, ein Bekenntnisbuch, analisou esta passagem. O mundo seria regido por um enigma.
A data da redacção é incerta. H. G. Wells escreveu que o Livro de Job é a grande resposta dos Hebreus aos diálogos de Platão.
Publicamos aqui a versão literal de frei Luis de León, a sua explicação de cada versículo e outra versão em verso hendecassílabo e rimado, ao jeito italiano. A prosa de frei Luis é, em geral, de uma serenidade exemplar; o original hebraico impõe-lhe aqui música de violências. Quando ouve a trompa, diz: «Ah! ah, cheira logo a batalha, o ruído dos capitães e o estrondo dos soldados.»
Esta biblioteca inclui também o Cântico dos Cânticos ou, como traduz frei Luis, Cantar de cantares. Define-o como écloga pastoril e dá-lhe um sentido alegórico. O esposo, profeticamente, seria Cristo; a esposa, a Igreja. O amor terreno seria um emblema do amor divino. Talvez não seja de mais recordar que a mais ardorosa obra da língua castelhana, a de São João da Cruz, provém deste livro.»
Jorge Luís Borges, «Biblioteca Pessoal. Prólogos», in Obras Completas, 1975-1988
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