Io credo nelle persone, però non credo nella maggioranza delle persone. Anche in una società più decente di questa, mi sa che mi troverò a mio agio e d'accordo sempre con una minoranza. (Nanni Moreti)
Acerca de mim
sexta-feira, 3 de setembro de 2021
Remorso por qualquer morte
domingo, 15 de agosto de 2021
Paz
sexta-feira, 30 de julho de 2021
4
sábado, 26 de junho de 2021
Queda
domingo, 23 de maio de 2021
Aborrecimento
«Eu inventava para mim aventuras e fantasiava a minha vida para quê? Para ter uma vida. Tantas vezes me aconteceu, digamos, ofender-me - por nada, propositadamente; eu próprio sabia, entretanto, que estava a ofender-me por nada, fomentava a ofensa por dentro, mas levava a coisa a um ponto tal que, por fim, sentia-me de facto ofendido. Durante toda a minha vida me senti impelido a tramar estes truques, a ponto de, por fim, perder o domínio de mim. Aconteceu-me sentir vontade de me apaixonar à força, até por duas vezes. O que eu sofri, meus senhores, palavra de honra. No fundo da alma, eu não acreditava que sofria, agitava-se dentro de mim um sarcasmo, e mesmo assim sofria, ainda por cima a sério, e muito; tinha ciúmes, perdia as estribeiras... E tudo por causa do aborrecimento, meus senhores, do aborrecimento; a inércia oprimia-me. Porque o fruto directo, legítimo e espontâneo da consciência é a inércia, ou seja, o ficar-de-braços-cruzados. Já o mencionei atrás. Repito, repito e insisto: todas as pessoas e personalidades espontâneas são activas precisamente porque são lorpas e limitadas. Como se explica isto? É assim: como consequência de serem limitadas, tomam as causas superficiais e secundárias por causas primeiras, desta maneira se convencendo mais fácil e prontamente do que os outros que acharam um fundamento indefectível para as suas acções, e isso sossega-as; e é isso o mais importante: o sossego. Porque, para começar a agir, é necessário estar-se prévia e completamente em sossego e que não existam já dúvidas nenhumas.»
terça-feira, 18 de maio de 2021
Outra Anunciação
segunda-feira, 17 de maio de 2021
Literatura
«MJS
– Correndo o risco de achares que não tem sentido fazer esta pergunta
sacramental, pergunto: O que é para ti a literatura?
AF-
A pergunta «o que é…?» faz todo o sentido no campo da Física, por exemplo, onde
para perguntas como «o que é a densidade?», ou «o que é a massa?», há, presumo,
respostas exactas. Mas usar essa forma sintáctica da interrogação peremptória
para domínios como a literatura, é aplicar um critério a uma área de
problemática em que esse tipo de critério não é funcional. Neste sentido, essa
é uma pergunta que, em relação a este objecto particular – a literatura -, talvez
não faça sentido. Aquilo que se procurou durante muito tempo descrever como a
característica central do que é «o literário», e que portanto definiria a
literatura, nunca foi formulado de modo preciso. Houve tentativas brilhantes,
como a dos formalistas russos que caracterizavam esse princípio como o da
«literariedade». A literariedade, o característico do literário, poria em evidência
a ostensividade do enunciado, a natureza estranha daquele modo de dizer, em
detrimento do que está a ser dito. Isto não funciona, no entanto, porque na
vida real as pessoas utilizam este mesmo tipo de procedimento sem estarem a
fazer literatura. Para além disso, a literatura é um corpo muito instável. Hoje
poucos percebem que Pessoa, tal como Pascoaes, considerasse Guerra Junqueiro o
maior poeta do seu tempo. Entretanto, Junqueiro sofreu um eclipse quase total.
Esta questão invoca necessariamente um conhecido debate contemporâneo, o debate
sobre o chamado «cânone». O cânone é o conjunto daquelas obras que é objecto de
discurso e de referência obrigatórios, bem como de presença atenuada nos
programas escolares. Há uma série de teorias em relação a esta persistência dos
«clássicos». Teorias conspirativas pretendem que o cânone é uma construção
política, descrevendo esse elenco obrigatório de autores como motivado por
interesses particulares. As pessoas que falam com grande ferocidade teórica
contra a existência de um cânone, na prática não sugerem, todavia, alterações a
introduzir no elenco de nomes. Ou seja, com o lado esquerdo da boca denunciam a
sua existência, mas com o lado direito não nos dizem por que razão deverá
substituir-se, por exemplo, Eça de Queirós por Pinheiro Chagas ou Arnaldo Gama.
Em Portugal, há poucos candidatos recém-chegados ao cânone que o perturbem. Há
uma peculiaridade adicional: quem impugna teoricamente a existência do cânone,
persiste, no entanto, em falar dos autores canónicos. Mas decerto deverá
explicar o porquê dessa obstinação, sob pena de ser visto como conivente com os
interesses que denuncia, ou ter de explicar qual a natureza do valor que
reconhece nos autores de que persiste em falar. A discussão sobre a noção de
cânone foi importada dos Estados Unidos, país onde, de facto, alterações
parcelares do cânone se dão, e o debate sobre isso é virulento. Têm um
significado político, peculiar a uma democracia fortemente igualitária, e
traduzem recomposições demográficas. Um aumento significativo da população
hispânica, por exemplo, força o currículo a incorporar autores que digam alguma
coisa a esse segmento da população. O panteão está desenhado para acolher
mentores. É uma espécie de mesa do orçamento literário, que nenhum mandarinato
cultural controla, ou se arroga sequer a mera ideia de controlar.»
Entrevista de Maria João Seixas a António M. Feijó
domingo, 16 de maio de 2021
Certo e errado
sábado, 15 de maio de 2021
Pedreiro
quinta-feira, 13 de maio de 2021
Verdade
Paz Universal
O fulgor luminoso de ontem
Salvemo-nos
Sonhemos
quarta-feira, 5 de maio de 2021
Antropofagias
Herberto Helder, in Antropofagias, Texto 6
domingo, 2 de maio de 2021
Negociações
sexta-feira, 30 de abril de 2021
O Último Dia
quinta-feira, 29 de abril de 2021
O antropomorfismo destas estranhas cabeças dirá
5. A resposta de Apolo à Inveja (Hino a Apolo, 105-112)
Onda
quarta-feira, 28 de abril de 2021
Bebido o Luar
50.
Silence
«The great poem. As I say it, it becomes clear to me that I have accepted it, until quite recently, as something which certainly exists, putting it highhandedly beyond any suspicion of coming into being. Even if the originator behind it were to appear, I should not be able to imagine the power which all at once had broken so great a silence. Just the builders of the cathedrals shot up, like grains of seed, immediately and without residue, into growth and blossom in their work, which stood there as if it had always been, no longer explicable as deriving from them: so the great poets of the past and the present remain entirely incomprehensible to me, the place of each being taken by the tower and bell of his heart. Only since a most proximate younger generation, striving upward and into the future, has embodied, not insignificantly, their own growth in the growth of their poems, does my eye seek to recognize, alongside of their achievement, the circumstances of the creative personality. But even now, when I must acknowledge that poems are formed, I am far from thinking them invented; it seems to me ratheras if there appeared in the soul of the poetically inspired a spiritual predisposition, which was already present between us (like an undiscovered constellation).»
Rainer Maria Rilke, Where the silence reigns
sexta-feira, 16 de abril de 2021
ADIÓS
quinta-feira, 15 de abril de 2021
Boredom
«It is by no means essential to my argument to maintain that boredom came into existence only when it was first named. One can never prove taht a new feeling has entered the world. The emotion Shakespeare's Hippolita experiences may in fact have precidely corresponded to what we understand as boredom, but the language assigned to her emotion differs from the twentieth-century vocabulary of boredom, and I maintain the importance of the difference. If new feelings arguably never manifest themselves, new concepts uniquivocally do. Boredom was in the eighteenth century a new concept, if not necessarily a new event. The emergence of a new concept marks a significant cultural happening because it allows articulation of fresh ways to understand the world.
Patricia Meyer Spacks, Boredom
quarta-feira, 14 de abril de 2021
Ritmo
«O ritmo não é apenas um aliado da memória, pois também é um catalisador dos nossos prazeres - a dança, a música e o sexo jogam com a repetição, o compasso e as cadências. A linguagem também possui infinitas possibilidades rítmicas. A épica grega flui em hexâmetros, que criam um peculiar ritmo acústico através de combinações de sílabas longas e breves. Pelo contrário, o verso hebraico prefere os ritmos sintáticos: «Há um breve momento para tudo e um tempo para cada coisa sob o céu: um tempo para nascer e um tempo para morrer, um tempo para plantar e um tempo para arrancar o que se plantou; um tempo para matar e um tempo para curar, um tempo para destruir e um tempo para edificar...» Dir-se-ia que estas frases do Eclesiastes cantam e, de facto, o músico Pete Seeger compôs uma canção, inspirada nelas - Turn! Turn! Turn! (To everything there is a season) que chegou ao topo das listas de êxitos em 1965. Na origem da poesia, o prazer do ritmo foi posto ao serviço da continuidade cultural.»
Irene Vallejo, O Infinito num junco
segunda-feira, 12 de abril de 2021
O Outro filho (irmão do pródigo)
Erguem-se os ventos e contra mim se assanham
quinta-feira, 1 de abril de 2021
quarta-feira, 31 de março de 2021
Pontos fundamentais a sublinhar: a afinidade (aqui sob a forma do parentesco entre obra de arte e problema filosófico) é o conceito-chave da categoria da relação em Benjamin. O problema filosófico surpreende-se como possibilidade de formulação do teor de verdade da obra, que terá de ser desenterrado. Com frequência, a crítica - aqui claramente equiparada à filosofia - é comparada a um acto de desenterrar, de escavar na terra. O crítico é assim como um mineiro ou um descobridor de tesouros. Diante da obra, a pessoa que tem um segredo que não confessará pela violência,, exige-se paciência, perseverança e reverência. Daí a verdade ser reconhecível e não questionável, pois pertence à ordem do mistério. Esta é uma ideia que Benjamin nunca põe de lado: a verdade não é um objecto de questionação, é uma exigência. Guardemos o reenvio do belo ao verdadeiro para mais tarde. Sublinhe-se desde já a confiança de Benjamin em relação à legitimidade de continuar a falar do vínculo entre beleza e verdade, sempre que se trata de pensar o que é a filosofia.
O Químico e o alquimista - Benjamin, Leitor de Baudelaire
O professor, pelo menos desde o Ménon platónico, não é, em primeiro lugar, alguém que sabe ensinar quem não sabe. É antes alguém que tenta recriar o objeto de estudo na mente do estudante, utilizando uma estratégia que permita, antes de qualquer outra coisa, que o estudante reconheça o que potencialmente já sabe, o que implica desmontar as forças que reprimem a sua mente e o impedem de saber aquilo que sabe. É por isso que cabe ao professor, e não ao aluno, fazer a maior parte das perguntas.
O Código dos códigos, Northrop Frye
sábado, 16 de janeiro de 2021
Silêncio
Quando Luísa lhe disse que lhe ligava quando tivesse alguma coisa para lhe dizer, João compreendeu que o mundo tinha mudado, pelo menos o seu mundo. Antes, não era preciso dizer nada, bastava o brilho que em ambos se cruzava proveniente das esperanças que acalentavam e na satisfação que sentiam pelo simples facto que estarem juntos. Isso aconteceu antes, quando ainda não se tinha a noção da dimensão do buraco para onde a pandemia os estava a levar. Desde março que tudo mudou, a princípio ainda havia a expetativa de que a vida voltaria ao normal num horizonte aceitável, se se pode assim dizer. Contudo, o tempo foi passando e, com ele, não foi apenas a manutenção do estado das coisas, mas também a acentuação de um afastamento. Com o tempo, as pessoas passaram a viver para dentro, a fechar-se em casulos repletos de receios, hesitações, medos. O fechamento de cada um para dentro de si próprio, começou por se revelar nas relações com os mais próximos, para, aos poucos, começar a fazer estrada e a conduzir muitas pessoas por caminhos até então desconhecidos. Fechadas nos seus casulos, as pessoas, porque alheias ao mundo exterior, porque o passaram, entretanto, a ver como uma ameaça, adquiriram um espírito de medo em relação ao outro, ao seu semelhante, como se não estivéssemos todos na mesma situação. O outro, aos poucos, passou a ser, ele próprio, a raiz da ameaça e, então, deu-se um fenómeno inquietante. Considerando-se perseguidas por uma ameaça invisível, muitas pessoas começaram a reagir de maneira epidérmica, levadas por uma irritação incontrolável, que procuravam tratar como quem tem uma borbulha e a coça constantemente. O resultado foi o esperado, a borbulha infetou. O pus resultante da infeção, rapidamente começou a alastrar e, gradualmente, contagiadas, as pessoas começaram a reagir como se o mal que sobre todos caiu tivesse sido causado pela primeira pessoa que lhes aparecia à frente. Um mundo com tais contornos é um mundo doente.
sexta-feira, 15 de janeiro de 2021
Ruído
À superfície existe um ruído, nascido de um murmúrio, insistente. Com a sua continuidade, o murmúrio deu lugar a este ruído bruto, insone. Um ruído provocado pela insatisfação e pelo ressentimento. Durante a minha vida, procurei sempre combater o ressentimento e as suas origens, em virtude de tudo aquilo que por detrás dele se esconde.O ressentimento é a ferramenta de que a frustração se serve para se manifestar. Nem sempre estive desperto para a dimensão da poesia de Ricardo Reis, mas, com o tempo, fui-me apercebendo de que a paz que nele se observa, advinda da sua capacidade para se colocar à margem do ruído desnecessário, bem como da inexistência de expetativas, é um meio para se alcançar uma salvação de características particulares. Com efeito, a ausência de expetativas não é necessariamente a manifestação de um procedimento em perda permanente, mas, em grande medida, o espelho de uma compreensão particular do mundo que remete para a ideia de que a humanidade é o que é e que em relação a ela não devemos criar a ilusão de que se venha a manifestar num modo virtuoso. Eu sou um cristão desnaturado, daqueles que trazem consigo a marca mais elevada da experiência manifestada, através do exemplo de Cristo. O perdão é a chave para uma vida virtuosa, pois é o perdão que é capaz de fazer nascer em cada dia, através de um coração limpo do pó da estrada, a esperança redentora da fraternidade.