«Ainda não tinha alcançado que em respondendo à questão «vive em conformidade com o progresso», falava tal como alguém que está num barco à deriva, ao sabor das ondas e do vento que quando questionado sobre a mais importante e vital questão, «para onde vou?» evita responder dizendo, «estamos a ser levados algures.»
Nesta altura nada disto eu vi. Apenas ocasionalmente, levado mais pelo instinto que pela razão, rebelei-me contra a superstição tão prevalecente na nossa era, na qual as pessoas se refugiam do seu fracasso em entender a vida. Deste modo, durante a minha estadia em Paris, a visão de uma execução revelou-me a precariedade da minha superstição em progresso. Quando vi cabeças serem separadas dos corpos e as ouvi cair, uma a seguir à outra, para dentro da caixa entendi, e não apenas com o intelecto, mas com todo o meu ser, que nenhuma teoria da racionalidade da existência e progresso pode justificar este crime. Entendi que ainda que toda e qualquer pessoa desde o dia da criação de acordo com qualquer teoria, julgasse isto necessário, eu sabia que era desnecessário e errado, e assim os julgamentos do que é certo e necessário, não deveriam ser baseados naquilo que os outros dizem e fazem, ou no progresso, mas nos instintos da minha própria pessoa.»
Lev Tolstoi, Confissão
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