Há muitas coisas que não entendo em mim mesmo. Por esse
motivo, dou comigo muitas vezes a cismar. Que inadequação é esta que sinto
constantemente entre mim e os outros, ou entre mim e o mundo? Deste facto não
me lamento, apenas porque não se discute a natureza das coisas. As coisas são o
que são e ponto final. Eu possuo uma natureza que é o que é e ponto final.
Na verdade, foi em contraste com os outros que desde muito
cedo me fui construindo e recordo as vezes em que, ainda criança, a minha mãe
me dizia para eu não me meter em asneiras só porque as outras crianças o faziam.
Nessa altura, a minha mãe achava que eu era vulnerável aos instintos dos
outros. Na verdade, ao longo da vida, várias pessoas, que de mim apenas
conheciam a superfície, terão feito juízos desta natureza.
No entanto, aquilo que sempre me moveu foi um espírito de harmonia,
de diálogo, de comunhão entre as partes que à minha volta se apresentaram
sempre em conflito. Nos meus trabalhos para obter essa harmonia, muitas vezes
dei comigo a ir ao outro de cada uma das partes, aproximando-me com a intenção
genuína que daí resultasse uma aproximação, uma negociação.
A vida é feita de negociação permanente. Com o tempo, fui
percebendo que existem pessoas que não permitem essa aproximação, de tal modo
se sentem certas nos seus propósitos que não imaginam sequer uma possível
negociação.
Dessas pessoas, afastei-me gradualmente, pois constatei que,
com elas não seria possível uma conciliação. Ao proceder deste modo, compreendi
que a minha relação com aquilo em que acredito e a respetiva defesa continham
princípios inegociáveis e que, desse modo, eu próprio, nas minhas intenções, me
aproximava daqueles de quem fugia, na maneira de atuar.
Afinal de contas, em que ficamos?
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