Acerca de mim

A minha foto
Oeiras, Portugal
Aluno e Professor. Sempre aluno.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Será a esperança possível?

E contudo, uma montanha que cai some-se
E a rocha se desloca do seu lugar;
As pedras, as águas as empurram,
E o seu fluxo inunda o pó da terra;
Assim, a esperança do humano, tu a fazes perecer.
Tu o arrasas para sempre, e ele desaparece,
Tu mudas a sua face e tu o [re]envias.
Eles são glorificados, os seus filhos?, e ele não o sabe;
E eles são afligidos?, e ele não discerne.
Mas a sua carne está dolorida sobre ele,
E a sua alma sobre ele lamenta enlutada.


Job, 14, 18-22

Esta última estrofe do discurso de Job retoma o tema do vv. 7-12: a descrição da caducidade do homem. O sonho que ele acaba de ter imaginando a possibilidade de uma esperança vem embater contra a dura realidade: todas as criaturas são frágeis, mesmo as mais resistentes. Quatro comparações sublinham esta fraqueza: a rocha que se esboroa, a pedra gasta pela água, o rochedo que se desloca, as terras que desabam com uma chuvada. Alguns exegetas pensam que estas imagens ilustram antes que a ideia de Deus procura aniquilar a esperança da sua criatura como as intempéries deslocam os terrenos e os rochedos. Seja como for, todas as aspirações humanas se detêm, ao fim de contas, na parede irrevogável da morte (cf. Ecl 9, 5-6).
Job esforça~se em vão por fazer uma representação da existência dos mortos. Ele percebe bem que a morte não significa um regresso ao nada, mas ela parece abolir as relações interpessoais. É interessante em todo o caso esta lembrança de que o defunto gostaria de saber dos outros, e especialmente dos seus filhos, mas que ele julga recusado àquele que morre; só lhe resta o sentimento do seu próprio sofrimento.»

Jean Radermakers, Deus, Job e a Sabedoria

Sem comentários: