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quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Crítico

«Para um crítico, o primeiro requisito é o temperamento, um temperamento finamente susceptível à beleza e às várias impressões que a beleza nos transmite. Sob que condições, e por que meios, este temperamento é engendrado na raça ou no indivíduo, não discutiremos de momento. Basta apenas notar que existe, e que há em nós, um sentido de beleza, distinto dos outros sentidos e acima deles, distinto da razão, mas de uma qualidade mais nobre, distinto da alma, mas de igual valor, um sentido que leva alguns a criar, e outro, espíritos mais finos, segundo me parece, unicamente a contemplar. Mas para se purificar e tornar perfeito, este sentido exige um determinado tipo de ambiente refinado. Sem isso, morre à míngua ou embota-se. Lembras-te decerto daquele passo em que Platão descreve como um jovem grego deve ser educado, e com que insistência ele refere a importância do que o circunda, dizendo-nos como o rapaz deve ser educado no meio de vistas e sons amoráveis, de modo a que a beleza das coisas materiais possa reparar a sua alma para a recepção da beleza que é espiritual. Insensivelmente, e sem saber o que o impele, desenvolverá aquele verdadeiro amor da beleza que é, como Platão nunca se cansa de nos lembrar, o verdadeiro fim da educação. De modo lento e gradual, criar-se-á nele um temperamento que o levará, simples e naturalmente, a escolher o bem em detrimento do mal, e, rejeitando o que é vulgar e discordante, a seguir por meio de um gosto fino e instintivo tudo aquilo que é dotado de graça, encanto e beleza. Por fim, em devida altura, este gosto tornar-se-á crítico e consciente de si, embora, a princípio, exista unicamente como um instinto cultivado, e «aquele que tiver recebido esta cultura verdadeira do homem interior verá, com visão clara e segura, as faltas e omissões na arte e na natureza, e, com um gosto incapaz de errar, enquanto elogia e acha prazer no que é bom e o recebe na sua alma, e assim se torna bom e nobre, também censurará e odiará o mal, mesmo nos seus dias de juventude, e ainda antes de saber por que o faz»; assim, quando, mais tarde, o espírito crítico e consciente de si se desenvolver nele, «reconhecê-lo-á e saudá-lo-á como um amigo a quem a sua educação tornou familiar». Será escusado dizer Ernest, como ficámos aquém, em Inglaterra, deste ideal, e posso bem imaginar o sorriso que iluminaria a cara luzidia do filisteu se alguém se lembrasse de lhe sugerir que o verdadeiro fim da educação era o amor da beleza, e que os métodos por meio dos quais a educação se faz são o desenvolvimento do temperamento, a correcção do gosto e a criação do espírito crítico.»

Oscar Wilde, «O Crítico como Artista», in Intenções, quatro ensaios sobre estética

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