Oscar Wilde, «O Crítico como Artista», in Intenções, quatro ensaios sobre estética
Io credo nelle persone, però non credo nella maggioranza delle persone. Anche in una società più decente di questa, mi sa che mi troverò a mio agio e d'accordo sempre con una minoranza. (Nanni Moreti)
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quarta-feira, 12 de outubro de 2011
Crítico
«Para um crítico, o primeiro requisito é o temperamento, um temperamento finamente susceptível à beleza e às várias impressões que a beleza nos transmite. Sob que condições, e por que meios, este temperamento é engendrado na raça ou no indivíduo, não discutiremos de momento. Basta apenas notar que existe, e que há em nós, um sentido de beleza, distinto dos outros sentidos e acima deles, distinto da razão, mas de uma qualidade mais nobre, distinto da alma, mas de igual valor, um sentido que leva alguns a criar, e outro, espíritos mais finos, segundo me parece, unicamente a contemplar. Mas para se purificar e tornar perfeito, este sentido exige um determinado tipo de ambiente refinado. Sem isso, morre à míngua ou embota-se. Lembras-te decerto daquele passo em que Platão descreve como um jovem grego deve ser educado, e com que insistência ele refere a importância do que o circunda, dizendo-nos como o rapaz deve ser educado no meio de vistas e sons amoráveis, de modo a que a beleza das coisas materiais possa reparar a sua alma para a recepção da beleza que é espiritual. Insensivelmente, e sem saber o que o impele, desenvolverá aquele verdadeiro amor da beleza que é, como Platão nunca se cansa de nos lembrar, o verdadeiro fim da educação. De modo lento e gradual, criar-se-á nele um temperamento que o levará, simples e naturalmente, a escolher o bem em detrimento do mal, e, rejeitando o que é vulgar e discordante, a seguir por meio de um gosto fino e instintivo tudo aquilo que é dotado de graça, encanto e beleza. Por fim, em devida altura, este gosto tornar-se-á crítico e consciente de si, embora, a princípio, exista unicamente como um instinto cultivado, e «aquele que tiver recebido esta cultura verdadeira do homem interior verá, com visão clara e segura, as faltas e omissões na arte e na natureza, e, com um gosto incapaz de errar, enquanto elogia e acha prazer no que é bom e o recebe na sua alma, e assim se torna bom e nobre, também censurará e odiará o mal, mesmo nos seus dias de juventude, e ainda antes de saber por que o faz»; assim, quando, mais tarde, o espírito crítico e consciente de si se desenvolver nele, «reconhecê-lo-á e saudá-lo-á como um amigo a quem a sua educação tornou familiar». Será escusado dizer Ernest, como ficámos aquém, em Inglaterra, deste ideal, e posso bem imaginar o sorriso que iluminaria a cara luzidia do filisteu se alguém se lembrasse de lhe sugerir que o verdadeiro fim da educação era o amor da beleza, e que os métodos por meio dos quais a educação se faz são o desenvolvimento do temperamento, a correcção do gosto e a criação do espírito crítico.»
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