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terça-feira, 11 de janeiro de 2011

O Poeta

«Oh, virtuoso é apenas aquele que o destino destinou para o cumprimento do dever de ajudar e de fortalecer a comunidade, só ele é escolhido por Júpiter para ser levado das brenhas pelo destino, mas quando a vontade comum do destino e de deus não permite este cumprimento do dever, então a incapacidade de ajudar e a falta de vontade de ajudar são consideradas uma e a mesma coisa, e são ambas punidas com a falta de ajuda: incapaz de ajuda, com falta de vontade de ajudar, sem ajuda dentro da comunidade humana, receoso da comunidade e encerrado no cárcere da arte, eis o poeta, sem guia e incapaz de guiar no seu abandono, e se ele se quisesse revoltar, se ele quisesse ajudar, despertar os outros na penumbra para assim reencontrar o caminho para o juramento e para a comunhão, tais anseios estavam, desde o início, condenados a fracassar; ele estava desde sempre condenado ao malogro - oh, e aqueles três tinham-lhe sido enviados para que ele, no meio da vergonha e do horror, tivesse consciência disso! a sua ajuda não passava de um simulacro de ajuda, a sua verdade era apenas uma verdade fictícia e mesmo que a humanidade as aceitasse serviriam apenas para a enganar e para lhe trazer calamidade, longe de a orientar para a salvação, longe da salvação. Sim, seria este o resultado: o ignorante surgirá como portador de conhecimentos para os que não querem receber conhecimento, o fazedor de palavras despertará a língua para os mudos, quem escreveu o dever imporá o dever aos ignorantes do dever, e ao paralítico cabe ser mestre dos cambaleantes.»

Hermann Broch, A Morte de Virgílio

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