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domingo, 6 de março de 2011

(Quaresma)

«Não era, propriamente, só a tez carregadamente morena, mais até que morena, do Vieira que o fazia até certo ponto uma figura reparável. Há em Portugal o número bastante de trigueiros carregados, e de criaturas com sangue índio ou negro, para que a cor variamente escura, que revelam, embora não seja o normal do português - simplesmente moreno ou claro não muito claro -, não seja motivo de reparo especial. O que torna o Vieira reparável, o fazia não esquecer, era a cor dos olhos, que, sendo de um castanho relativamente claro, natural no tipo de cabelo da mesma cor, destacavam marcadamente, como se fossem pálidos, da tez caregadamente morena. Essa circunstância tornava o Vieira quasi inesquecível. A evidente mistura de raças dera, pela única operação da hereditariedade, uma conjugação, no fácies, de caracteres contraditórios. O fenómeno, sem ser único, é raro. Tanto bastava para o Vieira «não esquecer».»

Ferando Pessoa, Quaresma, Decifrador, as novelas policiárias

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