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sábado, 19 de março de 2011

Experiência da morte

«Mas então, como é que «regressa» - se é que regressa, tal como me parece - o religioso na minha-nossa experiência actual? No que me diz respeito pessoalmente, não me envergonho de dizer que ela tem a ver com a experiência da morte - de pessoas queridas com quem tinha pensado percorrer um caminho muito mais longo, nalguns casos pessoas que sempre imaginara perto de mim quando chegasse a minha vez de me ir embora e que considerava estimáveis pela sua capacidade (afectuosa ironia perante o mundo, aceitação dos limites de cada um...) de tornar aceitável e vivível a própria morte (...).
Talvez, para lá destes incidentes, aquilo que volte a pôr em jogo, a certa altura da vida, a questão da religião tenha a ver com a fisiologia da maturação e do envelhecimento. A ideia de fazer coincidir «exterior» e «interior», segundo o sonho do idealismo alemão (era esta a definição da obra de arte em Hegel, mas também, no fundo, o trabalho da razão para Fichte), isto é, a existência de facto com o seu significado, é redimensionada no decorrer da vida. Isto tem como consequência avivar a esperança de que esta coincidência, que não parece realizável no tempo histórico e no decurso de uma vida humana média, possa realizar-se num tempo diferente. Os postulados da imortalidade da alma e da existência de Deus em Kant justificam-se precisamente com um argumento deste tipo. Se o esforço de praticar o bem, de agir segundo a lei moral, tem que ter um sentido, é preciso que se possa esperar racionalmente que o bem (isto é, a união da virtude e da felicidade) se realize noutro mundo, visto que neste, manifestamente, não se dá.»

Gianni Vattimo, Acreditar em Acreditar

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