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quinta-feira, 31 de março de 2011

Credo

«Se recito o Credo, ou até se rezo, as palavras que uso não têm para mim o som realista que os adeptos de uma fé concebida metafisicamente pensam dever atribuir-lhe. Assim, se chamo a Deus «pai» carregarei este termo de um conjunto de referências que têm a ver com a minha experiência histórica mas também com a minha biografia e que não ignoram o carácter problemático de atribuir à divindade traços humanos e, para além disso, ligados a um determinado modelo de família. Se penso em todas estas coisas, na verdade, já não sei muito bem o que digo quando recito o Pater Noster. Mas parece-me que também esta desorientação faz parte da minha experiência da fé como resposta à revelação da kenosis. No uso do termo pai permanecerá apenas aquilo que Schleiermacher chamava o puro sentimento da dependência? Provavelmente sim, e de novo é este o núcleo que não penso possa ser objecto de redução e desmistificação; o porquê não o sei, mas a verdade é que todo o discurso sobre a superação da metafísica, que me impede falar do ser como estrutura eterna, me leva a pensar o ser como evento e, portanto, como qualquer coisa que é iniciada, e por uma iniciativa que não é a minha. A historicidade da minha existência é uma consequência, e a emancipação, ou a salvação, ou a redenção, consiste precisamente  em tomar consciência deste carácter eventual do ser que me põe na contingência de entrar activamente na história, e não de contemplar simplesmente de modo passivo as suas leis necessárias. É este, mais uma vez, o sentido da frase «já não vos chamo servos, mas amigos».

Gianni Vattimo, Acreditar em Acreditar

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