Acerca de mim

A minha foto
Oeiras, Portugal
Aluno e Professor. Sempre aluno.

sábado, 5 de março de 2011

Influência

«Freud distingue entre duas fases tardias do romance familiar, uma em que a criança acredita que é enjeitada e uma em que acredita que a sua mãe teve muitos amantes na posição do seu pai. O movimento entre fantasias é aqui sugestivamente redutor, na medida em que a noção de uma origem elevada e de um destino frustrado dá lugar a imagens de degradação erótica. Blake, ao insistir que Tirzah ou a Necessidade era apenas a mãe da sua parte mortal descobriu (como quase sempre) que era uma dialéctica de distinções aquilo que o libertava das preocupações do romance familiar. Mas a maior parte dos poetas - como a maior parte dos homens - padece de uma versão de romance familiar ao lutar para definir uma relação o mais vantajosa possível  para com o seu precursor e a sua Musa. O poeta forte - como o grande homem hegeliano - é ao mesmo tempo o herói da história poética e a sua vítima. Esta vitimização aumentou à medida que a história se desenrolava visto que a angústia da influência é tanto mais forte quanto mais lírica, mais subjectiva, é a poesia, a deriva directamente da personalidade. Na concepção hegeliana um poema é apenas um prelúdio de uma percepção religiosa, e num poema lírico desenvolvido o espírito encontra-se tão separado do sensível que a arte está prestes a dissolver-se em religião. Mas nenhum poeta forte, no seu apogeu demandante, pode (como poeta) aceitar esta concepção hegeliana. E não seria para si que a história iria ser consolo para vitimizações.»

Harold Bloom, A Angúsita da Influência, uma teoria da poesia

Sem comentários: