Algumas pasagens de Teixeira de Pascoaes sobre Camilo Castelo-Branco:
«Teme a condenação, o degredo, por espírito anárquico e medroso; e deseja-o porque é nobre [...] Camilo é medroso, não cobarde. O medo pode ser vencido, a cobardia, nunca, pois deriva de uma conformação moral definitiva, como a estupidez. O seu drama é o da incerteza, dum temperamento líquido, ondulante, inadaptável à quietude. Vai na onda, não deitado, a flutuar, mas como um náufrago, em luta contra a morte.»
«Camilo, para mim, é um autor sagrado. Amo-o com todos os seus defeitos e virtudes. Não distingo as suas páginas, roubadas à Bíblia, de outras, plagiadas ao lugar-comum da literatura romântica. Não sou dos que blasfemam de Deus, por ele ter criado as moscas.
Amo-o, porque se entregou todo à sua obra, como as crianças se entregam aos seus brinquedos. E, por isso, os bonecos vivem, nas suas mãos.»
«Camilo nasceu, em Lisboa, a 16 de Março de 1825, conforme os registos oficiais, e também por ironia do Destino. É como se Maomé tivesse nascido na Gronelândia. Mas Alá não brincou com o seu Profeta; é um deus muito sério ou criado no deserto.»
«Felizes os que alcançam um absoluto indiscutível, no mal ou no bem, no céu ou no inferno. O purgatório é que é terrível, como a esperança.»
«Mas Camilo é ainda uma criança, a bordo dum paquete, batido do temporal. É o Atlântico apôr-lhe, diante dos olhos, a imagem futura da sua vida, a expiação. Viver é expiar o pecado de nascer. Somos nós que nascemos ou pecamos.»
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