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domingo, 21 de novembro de 2010

Cesare Beccaria

«Muitas vezes os homens deixam os mais importantes regulamentos entregues à prudência do dia-a-dia ou à discrição daqueles cujo interesse é oporem-se às leis mais previdentes, as quais, de sua natureza, tornam universais as vantagens e resistem àquela força com que tendem a concentrar-se nas mãos de uns poucos, colocando de um lado o auge do poder e da felicidade, e de outro toda a fraqueza e miséria. Pelo que só depois de ter passado através de mil erros nas coisas mais essenciais à vida e à liberdade, só depois de chegados ao extremo de um cansaço de suportar os males, se decidem a remediar as desordens que os oprimem e a reconhecer as verdades mais palpáveis que, precisamente pela sua simplicidade, escapam aos espíritos vulgares, não habituados a analisar as coisas, mas a receber delas uma impressão global, mais por tradição do que por pbservação.
Abra-se a História e veremos que as leis, embora sejam ou devam ser pactos de homens livres, a maior parte das vezes foram apenas instrumento das paixões de uma minoria, ou nasceram tão-só de uma fortuita e passageira necessidade; veremos que elas não são já ditadas por um frio observador da natureza humana que em um só ponto concentrasse os actos de uma multidão e os analisasse segundo este princípio: a máxima felicidade repartida pelo maior número. Felizes aquelas poucas nações que não esperaram que o lento movimento das coincidências e das vicissitudes humanas fizesse suceder ao ponto extremo do mal um encaminhamento para o bem, mas abreviaram os momentos de transição com boas leis; e é digno da gratidão dos homens aquele filósofo que teve a coragem de, do seu obscuro e desprezado gabinete, lançar entre a multidão as primeiras sementes, por muito tempo infrutíferas, das verdades úteis.»

Cesare Beccaria, Dos Delitos e das Penas

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