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segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

A Sepultura

Para ti foi construída a casa, antes de nasceres.
Para ti foi destinada a terra, antes que saísses de tua mãe.
Não a fizeram ainda. Ignora-se a sua fundura.
Não se sabe ainda que comprimento terá.
Agora eu levo-te ao teu sítio.
Agora meço-te primeiro a ti e depois à terra.
A tua casa não é muito alta. É humilde e baixa.
Quando estiveres aí, as valas serão baixas, humildes as paredes.
O tecto está perto do teu peito. Habitarás então no pó e sentirás frio.
Toda a treva e toda a sombra apodrecerá o covil.
Essa casa não tem porta e não há luz lá dentro.
Aí estás firmemente encarcerado e a morte possui a chave.
Aborrecida é essa casa térrea e atroz é morar nela.
Aí estarás e hão-de devorar-te os vermes.
Aí estás fechado longe dos teus amigos.
Nenhum amigo te visitará para te perguntar se essa casa te agrada.
Ninguém abrirá a porta.
Ninguém descerá a esse lugar porque muito depressa serás aborrecido para os olhos.
A tua cabeça será despojada do cabelo e a beleza do cabelo apagar-se-á.

Jorge Luís Borges, com María Kodama, in Breve Antologia Anglo-Saxónica

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