O Presidente da República Portuguesa afirmou que não tem dinheiro para pagar as suas contas.
À partida, numa atitude de boa vontade, até podemos pensar que o mais alto magistrado da nação tem razão em expor, enquanto cidadão, o estado das suas finanças. Contudo, existe um aspeto que o senhor Presidente não tem em consideração, mas tinha de ter tido. Ele é o Presidente de um estado de direito.
Quem se apresenta disponível para assumir cargos públicos tem de perceber que o dever de dirigir os outros implica a renúncia às causas próprias. É esta característica que distingue os grandes dos pequenos governantes. Ao pronunciar-se acerca do seu vencimento, o Presidente da República, porque sabe muito bem que tem formas mais do que suficientes para tratar do assunto, coloca o problema do seu vencimento nas bocas do mundo e revela a perda de dignidade de um órgão de soberania. Isto é, não soube estar à altura das suas responsabilidades, numa altura em que, cada vez mais, cada cidadão é confrontado com a obrigatoriedade do cumprimento das suas tarefas laborais, sob pena de ser despedido. Pergunto: não se pode despedir o Presidente da República?
Os pobres honestos sabem que a sua dignidade não tem preço e preferem não falar de dinheiro em vez de assumirem as suas dificuldades. Nisso, os pobres que assim procedem, são grandes e, pelos vistos, não é no seu exemplo que o Presidente da República se inspira. Pelo contrário, ao falar de dinheiro, e visto ser o mais alto representante da Nação, o Presidente espelha o estado a que o meu país chegou, o da humilhação a que nos conduziram tantos e tão pouco preparados políticos ao longo dos anos. O Presidente da República é apenas mais um desses políticos. Como ele, existem muitos que, agora que nos encontramos num estado lastimável, não sabem o que fazer, ou como resolver um problema para o qual todos estavam avisados, mas que, numa atitude cega se recusaram a prever.
Que já não há políticos estruturalmente preparados, capazes de inspirarem os seus cidadão, já sabíamos. Aquilo que agora aconteceu é apenas mais um momento em que dolorosamente não temos maneira de escapar à observação das nossas debilidades comuns. O presente é doloroso, economicamente, mas, pior ainda, do ponto de vista das lideranças políticas e dos valores que deviam presidir à gestão da coisa pública.
Um dia talvez alguns de nós cheguem a acordar deste pesadelo...
Sem comentários:
Enviar um comentário