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Oeiras, Portugal
Aluno e Professor. Sempre aluno.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

PJ Harvey - This Is Love

D. Quixote

«Primeiro que tudo, a minha obra é um símbolo... é um mito, palavra grega, e de moda germânica, que se mete hoje em tudo e com que se explica tudo... quanto se não sabe explicar.
É um mito porque — porque... Já agora rasgo o véu, e declaro abertamente ao benévolo leitor a profunda ideia que está oculta debaixo desta ligeira aparência de uma viagenzita que parece feita a brincar, e no fim de contas é uma coisa séria, grave, pensada como um livro novo da feira de Leipzig, não das tais brochurinhas dos boulevards de Paris.
Houve aqui há anos um profundo e cavo filósofo de além-Reno, que escreveu uma obra sobre a marcha da civilização, do intelecto — o que diríamos, para nos entenderem todos melhor, o Progresso.
Descobriu ele que há dois, princípios no mundo: o espiritualismo, que marcha sem atender à parte material e terrena desta vida, com os olhos fitos em suas grandes e abstractas teorias, hirto, seco, duro, inflexível, e que pode bem personalizar-se, simbolizar-se pelo famoso mito do Cavaleiro da Mancha, D. Quixote; — o materialismo, que, sem fazer caso nem cabedal dessas teorias, em que não crê, e cujas impossíveis aplicações declara todas utopias, pode bem representar-se pela rotunda e anafada presença do nosso amigo velho, Sancho Pança.
Mas, como na história do malicioso Cervantes, estes dois princípios tão avessos, tão desencontrados, andam contudo juntos sempre; ora um mais atrás, ora outro mais adiante, empecendo-se muitas vezes, coadjuvando-se poucas, mas progredindo sempre.
E aqui está o que é possível ao progresso humano.
E eis aqui a crónica do passado, a história do presente, o programa do futuro.
Hoje o mundo é uma vasta Barataria, em que domina el-rei Sancho.
Depois há-de vir D. Quixote.»

Almeida Garrett, Viagens na Minha Terra

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Vivaldi - Violin Concerto in G Major RV310

Les effets de la servitude volontaire

«La force corrosive de tous les despotismes corrompt la vie sociale et les structures socio-politiques d'un État soumis à la tyrannie sont caractéristiques. La Boétie, à l'instar de Rabelais décrivant l'abbaye de Thélème, montre que les mauvaises institutions sociales et politiques entraînent inévitablement les hommes dans les sentiers dangereux où s'abîme toute vertu.
En effet, si le tyran, dans la superbe qui lui fait «compter sa volonté pour raison», éprouve sa solitude comme une sorte de transcendence, il n'empêche qu'autour de lui gravite un essaim malfaisant. Avec une perspicacité remarquable et un sens aigu des caractères sociologiques quei sont l'ombre portée des régimes politiques, La Boétie voit dans la structure sociale de la tyrannie «le ressort et le secret de la domination». Cet effet de la tyrannie permet donc, tout autant que ses causes, d'en comprendre le sens.»

Simone Goyard-Fabre, «Introduction» a Discours de la Servitude Volontaire, de Étienne de La Boétie

Smokers Outside the Hospital Doors - Editors (Official Video) -HQ-

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Escrever bem

O bom escritor não diz mais do que aquilo que pensa. E muita coisa depende disso. É que o dizer não é apenas a expressão, mas também a realização do pensamento. Do mesmo modo, anda não é apenas a expressão de um desejo de alcançar um objectivo, mas a sua realização. Já a natureza dessa realização, se ela é conforme ao seu objectivo de forma exacta ou se se perde, exuberante e imprecisa, no desejo - isso depende do treino daquele que está a caminho. Quanto mais disciplinado for, evitando os movimentos supérfluos, gesticulantes e deambulantes, tanto mais cada postura do corpo se basta a si mesma, e tanto mais adequada a sua actuação. O mau escritor tem muitas ideias e esgota-se nelas, como o mau corredor, não treinado nos movimentos indolentes e impulsivos dos membros. Mas é por isso mesmo que ele nunca pode dizer sobriamente o que pensa. O dom do bom escritor é o de, pelo seu estilo, dar ao pensamento o espectáculo oferecido por um corpo treinado com inteligência e eficácia. Nunca diz mais do que aquilo que pensou. Assim, a sua escrita aproveita, não a ele próprio, mas tão somente àquilo que quer dizer.»

Walter Benjamin, Imagens de Pensamento

RENATO ZERO - (MINA) 2000 -- "neri" -- by f1alexMilano

La Formula della Saggezza

«C'è la formula della saggezza e della sapienza? C'è, ed è questa: riconoscere che senza il male la vita e il mondo non sarebbero, e tutt'insieme combattere sempre praticamente e irrimessibilmente il male, e cercare e attuare sempre indefessamente il bene: negare come assurda la felicità e cercar sempre la felicità, negare come assurdo il trionfo definitivo della libertà sulla servitù, della figlia di lei giustizia sull'ingiustizia, del sapere sull'ignoranza, dell'intelligenza sulla stupidità, e praticamente volere e procurare in ogni istante quel trionfo, il trionfo di quell'istante. È questa una formula che non opera nella realtà o solo in qualche singolo personaggio straordinario? Per contrario: è quella che opera sempre, in tutti, nella più superba come nella più modesta persona. Suona contraditoria? Per contrario: s'impone come ovvia. Sta nelle pieghe dell'animo, non consapevole e non detta? Per contrario: si ritrova in infiniti detti del buon senso.»

Benedetto Croce, «Quaderni della Critica»

sábado, 21 de janeiro de 2012

R.E.M. - Daysleeper (Official Video)

L'idea estetica

«L'idea estetica  è «una rappresentazione dell'immaginazione che si accompagna a un dato concetto, rappresentazione la quale è congiunta con tal varietà di rappresentazioni particolari da non potersi trovare per essa alcuna espressione che contrassegni un determinato concetto, e che quindi aggiunge a un dato concetto molto d'ineffabile, il cui sentimento ravviva la potenza conoscitiva e unisce alla lingua, ch'è la pura lettera, lo spirito». Il genio ha dunque per elementi costitutivi l'immaginazione e l'intelletto, e consiste «nella felice disposizione, che nessuna scienza può insegnare e nessuna diligenza apprendere, di trovare idee per un dato concetto, e, d'altra parte, di cogliere l'espressione per cui la commozione soggettiva così effettuata, come accompagnamento di un concetto, possa venire comunicata ad altri». All'idea estetica nessun concetto è adeguato, come al concetto nessuna rappresentazione dell'immaginazione ne può essere mai adeguata.»

Benedetto Croce, Estetica

Mudar de Vida - Carlos Paredes

Dignidade nacional

O Presidente da República Portuguesa afirmou que não tem dinheiro para pagar as suas contas.
À partida, numa atitude de boa vontade, até podemos pensar que o mais alto magistrado da nação tem razão em expor, enquanto cidadão, o estado das suas finanças. Contudo, existe um aspeto que o senhor Presidente não tem em consideração, mas tinha de ter tido. Ele é o Presidente de um estado de direito.
Quem se apresenta disponível para assumir cargos públicos tem de perceber que o dever de dirigir os outros implica a renúncia às causas próprias. É esta característica que distingue os grandes dos pequenos governantes. Ao pronunciar-se acerca do seu vencimento, o Presidente da República, porque sabe muito bem que tem formas mais do que suficientes para tratar do assunto, coloca o problema do seu vencimento nas bocas do mundo e revela a perda de dignidade de um órgão de soberania. Isto é, não soube estar à altura das suas responsabilidades, numa altura em que, cada vez mais, cada cidadão é confrontado com a obrigatoriedade do cumprimento das suas tarefas laborais, sob pena de ser despedido. Pergunto: não se pode despedir o Presidente da República?
Os pobres honestos sabem que a sua dignidade não tem preço e preferem não falar de dinheiro em vez de assumirem as suas dificuldades. Nisso, os pobres que assim procedem, são grandes e, pelos vistos, não é no seu exemplo que o Presidente da República se inspira. Pelo contrário, ao falar de dinheiro, e visto ser o mais alto representante da Nação, o Presidente espelha o estado a que o meu país chegou, o da humilhação a que nos conduziram tantos e tão pouco preparados políticos ao longo dos anos. O Presidente da República é apenas mais um desses políticos. Como ele, existem muitos que, agora que nos encontramos num estado lastimável, não sabem o que fazer, ou como resolver um problema para o qual todos estavam avisados, mas que, numa atitude cega se recusaram a prever.
Que já não há políticos estruturalmente preparados, capazes de inspirarem os seus cidadão, já sabíamos. Aquilo que agora aconteceu é apenas mais um momento em que dolorosamente não temos maneira de escapar à observação das nossas debilidades comuns. O presente é doloroso, economicamente, mas, pior ainda, do ponto de vista das lideranças políticas e dos valores que deviam presidir à gestão da coisa pública.
Um dia talvez alguns de nós cheguem a acordar deste pesadelo...

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Claudio Baglioni - Strada facendo - Tour tutto in un abbraccio 2003

Telmo

«Virou-se-me a alma toda com isto: não sou já o mesmo homem. Tinha um pressentimento do que havia de acontecer... parecia-me que não podia deixar de suceder... e cuidei que o desejava enquanto não veio. - Veio, e fiquei mais aterrado, mais confuso que ninguém! - Meu honrado amo, o filho do meu nobre senhor está vivo... o filho que eu criei nestes braços... vou saber novas certas dele - no fim de vinte anos de o julgarem todos perdido - e eu, eu que sempre esperei, que sempre suspirei pela sua vinda... - era um milagre que eu esperava sem o crer! - eu agora tremo... É que o amor desta outra filha, é maior, e venceu... venceu, apagou o outro. Perdoe-me Deus, se é pecado. Mas que pecado pode haver com aquele anjo? - Se me ela viverá, se escapará desta crise terrível! - Meu Deus, meu Deus! (...) Levai o velho que já não presta para nada, levai-o por quem sois! (...) Contentai-vos com este pobre sacrifício da minha vida, Senhor, e não me tomeis dos braços o inocentinho que eu criei para vós, Senhor, para vós... mas ainda não, não mo leveis ainda. Já padeceu muito, já traspassaram bastantes dores aquela alma; esperai-lhe com a da morte algum tempo!»

Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa, III, 4

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

PAT METHENY - LETTER FROM HOME

Amour

«Au début, l'étude des mathématiques est pénible pour ceux qui les commencent, de même que celle de la philosophie pour les jeunes gens: mais pas plus qu'elles ne sont toujours hérissées de difficultés, l'amour ne conserve toujours ses épines. Comme il arrive quand deux liqueurs se combinent ensemble, l'amour semble au commencement produire une certaine fermentation, un certain désordre; mais au bout de quelque temps tout se rassied, se calme, et reprend la disposition la plus solidement assurée. Car le mélange appelé "union intégrale" est véritablement celui qui s'opère entre époux amoureux. Le fait de vivre ensemble sans avoir de liens profonds ressemble à ces contacts, à ces entrelacements dont parle Épicure, qui sont suivis de collisions et de séparations brusques. Dans ces derniers rapprochements il n'y a rien qui constitue l'unité que seul produit l'Amour quand il préside au commerce intime de deux époux.»

Plutarco, Diálogo sobre o Amor

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Arvo Pärt - Alina!

Se te dizem para confiar, desconfia

Se te dizem para confiar, desconfia
Se te dizem para acertar, erra
Se te falam em certeza, duvida

Podes assentir, podes calar, cerrar os dentes,
podes, enfim, ganhar tempo
até que a revolução
passe
e com a sua passagem
o pó assente

Mas não digas
Sim
A tua alma não está à venda
e os campos florescem de forma natural

Perde-te na imaginação
que te faz sentir os oceanos
perdidos
de um passado longínquo
Não deixes que a tempestade
atropele aquilo que em ti existe de mais íntimo

Porque ninguém pode aceder
ao teu lugar de sonho

Para o protegeres,
todos os expedientes te são permitidos

Aproveita, então, para voares
por cima da circunstância
e mergulhares nas nuvens claras
em direção à claridade

Na presença da luz intensa
Reinarás
nesse lugar és dono e senhor

Ao sétimo dia, já refeito de tantos trabalhos,
aproveita a primeira trégua.
Respira, profundamente

Mylene Farmer "Desenchantee" Live at Bercy

Che fece… Il gran rifiuto

A algumas pessoas um dia cai
em que o grande Sim ou o grande Não sobrevém
dizer. Logo surge ao de cima a que tem
pronto dentro de si o Sim, e ao dizê-lo vai

além da sua honra e do que está convencida.
A que negou não se arrepende. De novo interrogada
voltaria a dizer não. Mas tem-na derrotada
aquele não – o correcto – toda a sua vida.    

Konstandinos Kavafis

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Alessandra Ferri and Sting

A Sepultura

Para ti foi construída a casa, antes de nasceres.
Para ti foi destinada a terra, antes que saísses de tua mãe.
Não a fizeram ainda. Ignora-se a sua fundura.
Não se sabe ainda que comprimento terá.
Agora eu levo-te ao teu sítio.
Agora meço-te primeiro a ti e depois à terra.
A tua casa não é muito alta. É humilde e baixa.
Quando estiveres aí, as valas serão baixas, humildes as paredes.
O tecto está perto do teu peito. Habitarás então no pó e sentirás frio.
Toda a treva e toda a sombra apodrecerá o covil.
Essa casa não tem porta e não há luz lá dentro.
Aí estás firmemente encarcerado e a morte possui a chave.
Aborrecida é essa casa térrea e atroz é morar nela.
Aí estarás e hão-de devorar-te os vermes.
Aí estás fechado longe dos teus amigos.
Nenhum amigo te visitará para te perguntar se essa casa te agrada.
Ninguém abrirá a porta.
Ninguém descerá a esse lugar porque muito depressa serás aborrecido para os olhos.
A tua cabeça será despojada do cabelo e a beleza do cabelo apagar-se-á.

Jorge Luís Borges, com María Kodama, in Breve Antologia Anglo-Saxónica

domingo, 15 de janeiro de 2012

Charlie Parker TV Sessions (14:57)

Reportage

«Qual è, in effetti, l'intenzione artistica del reportage? Presentare nuda e cruda la verità; rompere per sempre con gli arrangiamenti romantici della poesia fabulizzante e tendere, come nella scienza, ad un maximum di legame con l'oggetto da cui debbono perdiò essere estromesse, nella misura del possibile, tutte le fonti di perturbazione e i condizionamenti soggettivi. Il singolo scienziato sparisce nella sua ricerca ed è assolutamente indifferente sapere chi stia al microscopio. Allo stesso modo deve venire eliminato il poeta; al suo posto deve parlare l'oggetto in quanto tale con i suoi connotati concreti: nient'altro.
Possiamo chiederci: perché parlare ancora di poesia? Per un simile ideale artistico la concezione poetica del mondo non si identifica con quella scientifica?
Come romanzo storico, il romanzo ha sempre conservato un certo rapporto con la storiografia: il reportage non fa che distillare scientificamente la storia contemporanea. Una rigorosa scienza giornalistica: ecco, pressappoco, l'idea platonica della tendenza che stiamo esaminando. Anche la parola reportage deriva del resto dalla pratica giornalistica e non sono mancati gli sforzi per imbrigliare il romanzo contemporaneo nel campo storico. Abbondante utilizzazione di documenti originali, riferimenti ai fatti del giorno, montaggio di cronache giornalistiche (come esempio tipico di questa tecnica, anche se non si trata di tipici reportage, possono valere i romanzi di Robert Neumann) dovrebbero servire a far parlare direttamente l'oggetto stesso, a renderlo storico. Cha l'attuale predilezione per la biografia si muova nella stessa direzione, è infine un fatto su cui non è necessario insistere.
Anche sotto questo aspetto si può tracciare un parallelo con lo sviluppo della pittura. Ricordo di aver visto quadri neofuturisti consistenti in un montaggio di documenti originali, fatti cioè di autentiche scatole di fiammiferi e di autentiche puntine da disegno. Non intendo qui avanzare nessuna critica né al futurismo né al reportage letterario, perché un artista ha il diritto di creare la propria opera servendosi di ciò che vuole e quindi anche di scatole di fiammiferi. Né del resto dobbiamo approfondire qui il problema tecnico circa la possibilità in generale di trasporre direttamente un oggetto dalla sua sfera originaria alla sfera dell'arte. Intendo dire solo una cosa: neppure la scienza è in grado di riprodurre nella sua totalità il fenomeno, ad esempio il fenomeno fisico, ma si serve di strumenti di trasposizione altamente complessi e tra gli altri della sua traduzione in formule matematiche. Bisogna ammettere che una scatola di fiammiferi assolve in quadro ad una funzione completamente diversa da quella cui assolve in natura. Incontriamo a questo punto un problema della scelta. Quali scatole di fiammiferi vengono montate nel quadro? Quali documenti vengono utilizzati come strumento artistico del reportage? Che cosa, in generale, viene scelto come materiale del reportage?
E qui urtiamo contro un fatto veramente sconcertante: quasi mai nella letteratura e nella storia della letteratura (forse mai, dopo Walter Scott) ci si è avvicinati tanto al romantico come nel reportage, dove lo straordinario diviene norma. Certo, nella vita anche le cose più comuni possono essere straordinarie, e se un poeta del rango di Heinrich Hauser nel suo meraviglioso reportage sulla navigazione delle ultime navi a vela descrive la vita quotidiana di bordo, egli sa farci intravvedere il cosmo attraverso il microcosmo. Peraltro, per quanto paradossale, questo non ci stupisce; l'eliminazione del poeta è infatti possibile soltanto ad opera di un poeta e cio che à ancora consentito ad un Hauser, non funziona assolutamente più con la maggior parte degli altri scrittori. E persino in Hauser non si può misconoscere una certa inclinazione alla eroicizzazione del mondo. La sua scelta di tipi corrisponde, nel complesso, a un ideale di dura e solida virilità e di un'umanità maschia, nobile e coraggiosa, poco propensa alla sentimentalità e con una sua vita sessuale limitata ma brutale, un ideale che alcuni anni fa ebbe in Johannes V. Jensen uno dei suoi primi fautori. Se andiamo alla ricerca del materiale del reportage letterario troviamo dovunque la stessa cosa, la stessa squallida volgarizzazione: un mondo rumorosamente eroico pieno di artificiosi trionfi, un mondo di filibustieri e di gangster che agiscono a volte nelle rombanti vie cittadine, a volte nelle pampas, a volte nelle Borse. Interi paesi, la tecnicizzata America e la ultratecnicizzata Russia, vengono elevati alla dimensione dell'eroico. Insomma domina un principio di scelta che, malgrado tutta la obiettività cui si aspira, porta il marchio di una indicibile mendacità. Forse per il reportage non vi è realmente alcun modo di sfuggire a questo rischio se non volgendosi decisamente al dato biografico e all'avvenimento sensazionale. Rappresentando un'eccezionale vicenda umana o un grande avvenimento, anch'esso eccezionale, l'autore si sottrae alle difficoltà inerenti la selezione dei fatti, e questi si ordinano seguendo la loro logica intorno al centro di gravità della narrazione, sicché l'incombente pericolo della falsificazione e dell'artificio viene scongiurato.»

Hermann Broch, Il Kitsch

sábado, 14 de janeiro de 2012

Ian Brown - I Wanna Be Adored (T in the Park)

Passado

«Escrevo que Paulo, em 1920, era aluno da Escola Politécnica. Quem é que "era"? Paulo, evidentemente; mas que Paulo? O jovem de 1920? Mas o único tempo do verbo ser que convém a Paulo considerado em 1920 - na medida em que lhe atribuímos a qualidade de estudante politécnico - é o presente. Na medida em que ele foi, é preciso dizer: "ele é". Se é um Paulo transformado em passado quem foi o aluno da Politécnica, toda a relação com o presente fica rompida: o homem que sustentava esta qualificação, o sujeito, ficou lá atrás, com seu atributo, em 1920. Se quisermos manter a possibilidade de uma rememoração, será necessário, nesta hipótese, admitir uma síntese recognitiva que venha do presente para manter o contacto com o passado. Síntese impossível de se conceber, se não for um modo de ser originário. À falta de síntese, será preciso abandonar o passado em seu altivo isolamento. Além disso, que significaria semelhante cisão da personalidade? Proust admite sem dúvida a pluralidade sucessiva dos Eus, mas esta concepção, tomada ao pé da letra, nos faz recair nas dificuldades insuperáveis que os associacionistas encontram em sua época. Talvez possa se sugerir a hipótese de uma permanência na mudança: aquele que foi aluno da Politécnica é esse mesmo Paulo que existia em 1920 e existe hoje? É aquele de quem, após termos dito "é aluno da Politécnica", agora dizemos: "é ex-aluno da Politécnica". Mas esse recurso à permanência não nos livra do embaraço: se nada vier tomar ao revés o fluir dos "agoras", de modo a constituir a série temporal, e, nesta série, caracteres permanentes, a permanência nada mais será que certo conteúdo instantâneo e sem espessura de cada "agora" individual. É preciso que haja um passado e, por conseguinte, algo ou alguém que era esse passado, para que haja uma permanência; longe de poder constituir o tempo, esta o pressupõe para revelar-se nele e revelar com ela a mudança. Voltamos, pois, ao que entrevíamos antes: se a remanência existencial do ser sob a forma de passado não surge originariamente de meu presente atual, se meu passado de ontem não for como uma transcendência para trás de meu presente de hoje, perderemos toda esperança de religar o passado ao presente. Assim, se digo que Paulo foi ou era aluno da Politécnica, refiro-me a esse Paulo que presentemente é e digo que é quadragenário. Não é o adolescente que era aluno. Deste, enquanto foi, deve-se dizer: é. O quadragenário é que era. Para dizer a verdade, o homem de trinta anos também o era. Mas que seria o homem de trinta anos, por sua vez, sem o quadragenário que o foi? E o próprio quadragenario, é no extremo limite de seu presente que ele "era" aluno da Politécnica. E finalmente, é o ser humano da "Erlebnis" que tem a missão de ser quadragenário, homem de trinta anos, adolescente, à maneira de tê-lo sido. Desta "Erlebnis", dizemos hoje que é; do quadragenário e do adolescente também se disse, em seu tempo, que são; hoje, fazem parte do passado, e o passado mesmo é, no sentido de que, atualmente, é o passado de Paulo ou desta "Erlebnis". Assim, os tempos particulares do perfeito designam seres que existem todos realmente, ainda que em modos de ser diversos, mas dos quais um é e , ao mesmo tempo, era o outro; o passado caracteriza-se como passado de algo ou de alguém; tem-se um passado. É este utensílio, esta sociedade, este homem que têm seu passado. Não há primeiro um passado universal que depois se particularizasse em passados concretos. Mas, ao contrário, o que encontramos primeiro são passados particulares. E o verdadeiro problema [...] será saber por qual processo esses passados individuais podem unir-se para formar o passado.»

Jean-Paul Sartre, O Ser e o Nada 

Aztec Camera - Somewhere In My Heart

Alexandre da Macedónia

A perfeição, a eternidade, a plenitude
Escorriam da sagrada juventude
Dos teus membros.

A luz bailava em roda dos teus passos
E a ardente palidez da tua divindade
Ergueu-se da pureza dos espaços.

Estreitamente os teus dedos
Para lá das vagas ânsias, incertezas e segredos
Prendiam os dedos da sorte.

E o destino que em nós é caos e luto,
Era em ti verdade e harmonia
Caminho puro e absoluto.

Sophia de Mello Breyner Andresen

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Electronic - Getting Away With It

II

Diz-se que os anjos voam
doutro modo; leves;
que não levam peso
quando partem:
a nossa miséria já filtrada,
a sua misericórdia imponderável;
flutuam; pairam; vogam:
verbos de pouca densidade;
cânones vigiaram
o crescimento das asas
nas pinturas heréticas;
concílios redigiram normas
a impor asas mais breves:
para que voem; ut volent;
basta a sua essência aérea;
e assim, nenhum anjo sofreu
as leis reais do nosso peso; nem pôde,
por isso, conhecer-nos.

Carlos de Oliveira

Das Rheingold (Entrance of the Gods) - Wagner Symphonic Syntheses - Stokowski.

Gelou a catedral de Isaac nas pestanas mortas

Gelou a catedral de Isaac nas pestanas mortas,
as ruas - azuis, altivas veias.
morte do tocador de realejo, pêlo das ursas,
e na lareira achas alheias.

Já dos coches o fogo-matilheiro dispersa
a matilha divergente,
voa a terra - globo mobilado, e o espelho
finge-se omnisciente.

Nos patamares das escadas, discórdia e neblina,
respiração, sopro e canto,
a Schubert gelou-lhe o talismã na peliça -
marcha, marcha, movimento...

3 de Junho de 1935

Óssip Mandelstam

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Au Revoir Simone - Another Likely Story

Sentidos

«E - Parece-me antes que é pela razão que compreendemos que existe esta espécie de sentido interior, ao qual se refere tudo o que é captado por meio destes cinco conhecidíssimos sentidos. De facto, um é o sentido pelo qual o animal vê, e o outro aquele pelo qual evita ou deseja aquilo que percepciona através da visão. Com efeito, aquele primeiro está nos olhos, mas este último está no próprio interior da alma. Por meio dele, não só as realidades não se vêem, mas também as que se ouvem, bem como as outras realidades que se captam com os sentidos do corpo, são desejadas e tomadas pelos animais, porque lhes agradam, ou, porque os agridem, são por eles evitadas e rejeitadas.
Porém, este sentido interior não se pode chamar visão, nem audição, nem cheiro, nem paladar ou tacto. Trata-se não sei de que outra realidade que preside a todas estas como algo que lhes é comum. Como disse, é por meio da razão que a compreendemos, mas não lhe posso chamar razão, porque é evidente que ela também está presente nos animais.

A - Reconheço que existe tal realidade, seja lá o que for, e não duvido chamar-lhe sentido interior. Mas, a não ser que se ultrapasse este sentido, aquilo que nos é transmitido através dos sentidos do corpo não pode chegar a transformar-se em conhecimento. Com efeito, o conhecimento, para nós, é aquilo que admitimos depois de o ter compreendido pela razão. Mas - para não falar de outras coisas - sabemos que as cores não podem ser sentidas pelo ouvido, nem as vozes o podem ser pela vista. E, ao saber isto, não é pelos olhos ou pelos ouvidos que o sabemos, nem por aquele sentido interior, que também não falta aos animais. De facto, não é de crer que eles saibam que não é pelos ouvidos que captam a luz, nem pelos olhos que escutam as vozes, porque estas realidades só se discernem por uma atenção racional e pelo pensamento.»

Santo Agostinho, Diálogo sobre o Livre Arbítrio

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

The Smiths - Well I Wonder (With Lyrics)

J'ai rêvé d'un pays

«J'ai rêvé d'un pays. C'était dans une autre vie. J'ai rêvé d'un pays où il avait fait grand vent. C'était dans un autre monde. J'ai rêvé d'un pays où le malheure était devenu si fort, si grand, si noir que c'était comme un arbre immense entre le soleil et les gens. Alors un jour pareil à la plus profonde des nuits les bûcherons se révoltèrent, et il n'y avait pas de scie assez grande ni de bras assez puissants pour trancher au pied l'arbre maudit. Mais les bûcherons s'y mirent tous ensemble, et c'était à la fin d'une guerre, et les champs étaient obscurs de vautours, et l'air empuanti d'hommes et de chevaux morts. J'ai rêvé d'un pays où les enfants et les femmes aidèrent les bûcherons à abattre le malheur.»

Louis Aragon, La Mise à Mort

domingo, 8 de janeiro de 2012

Giorgia E poi Live. Una notte a Roma 2005

O Lord

Lord que eu fui de Escócias doutra vida
Hoje arrasta por esta a sua decadência,
Sem brilho e equipagens,
Milord reduzido a viver de imagens,
Pára as montras de jóias de opulência
Num desejo brumoso - em dúvida iludida...
(- Por isso a minha raiva mal contida,
- Por isso a minha eterna impaciência.)

Olha as Praças, rodeia-as...
Quem sabe se ele outrora
Teve Praças, como esta, e palácios e colunas -
Longas terras, quintas cheias,
Iates pelo mar fora,
Montanhas e lagos, florestas e dunas...

(- Por isso a sensação em mim fincada há tanto
Dum grande património algures haver perdido;
Por isso o meu desejo astral de luxo desmedido -
E a Cor na minha Obra o que ficou do encanto...)

Mário de Sá-Carneiro

sábado, 7 de janeiro de 2012

The Doors - Touch Me

Futuro

Faccia una profezia, sia Tiresia. C'è speranza nel futuro?
"Dovrei fare Cassandra più che Tiresia. Ho chiesto a dei ragazzi svedesi con cui ho parlato, ho fatto loro questa domanda: voi vi sentite ancora più vicini alla civiltà umanistica o vi sentite già dentro la civiltà tecnológica? E mi pare che loro abbiano risposto, piuttosto tristemente, che si sentono la prima generazione di una trentina di generazioni diverse da quello che è stato fino adesso. E per concludere. Tutto quello che ho detto, l'ho detto a titolo personale. Se voi parlerete con altri italiani vi diranno: "Quel pazzo di Pasolini"".

Pier Paolo Pasolini, em entrevista concedida em outubro de 1975, publicada no «L'Espresso», de 16 de dezembro de 2011

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

"Route 66" - The Manhattan Transfer (2008)

Vontade

«Com efeito, dissemos, e chegámos entre nós a acordo, que é por aquela vontade que os homens a merecem [a vida feliz], e que também é pela vontade que são infelizes e, assim, recebem o que merecem. Mas agora, na realidade, há aqui qualquer coisa que repugna e, se não a analisarmos diligentemente, corremos o risco de perturbar o que anteriormente se disse com tão firme e atenta razão. De facto, como pode alguém suportar voluntariamente uma vida infeliz, se absolutamente ninguém quer ter uma vida infeliz? Ou, então, como poderemos afirmar que é voluntariamente que o ser humano atinge a vida feliz, uma vez que há tantos homens infelizes e que todos querem ser felizes? Ou será que isto acontece porque uma coisa é querer o bem ou o mal, e outra merecer alguma coisa por meio da boa ou da má vontade? Na verdade, os que são infelizes, e que, necessariamente, também são bons, não é pelo facto de terem querido a vida feliz que são felizes - com efeito, isto também querem os maus -, mas por quererem viver retamente, coisa que os maus não querem. E por isso não é de admirar que os homens infelizes não obtenham aquilo que querem, ou seja, a vida feliz. Efectivamente, eles não querem igualmente aquilo que a acompanha, e sem o qual ninguém é digno dela e ninguém a obtém, ou seja, a retidão de vida. Aquela lei eterna, a cuja análise já é tempo de regressar, estabeleceu isto mesmo com uma firmeza imutável, de tal modo que o mérito está na vontade, mas o prémio e o castigo estão na felicidade ou na infelicidade. Assim, quando dizemos que os homens são infelizes voluntariamente, não dizemos, por isso, que tenham querido ser infelizes, mas que o são voluntariamente, uma vez que a sua vontade é tal que também se segue necessariamente que sejam infelizes contra a sua vontade. Daí que isto não vá contra as razões antes apresentadas, visto que todos querem ser felizes, mas não podem. Com efeito, nem todos querem viver retamente, e é só a esta vontade que se deve a vida feliz.»

Santo Agostinho, Diálogo sobre o Livre Arbítrio

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Bad Lieutenant - Sink Or Swim (Official Music Video)

Escavar e Recordar

«A linguagem fez-nos perceber, de forma inconfundível, como a memória (Gedachtnis) não é um instrumento, mas um meio, para a exploração do passado. É o meio através do qual chegamos ao vivido (das Erlebte), do mesmo modo que a terra é o meio no qual estão soterradas as cidades antigas. Quem procura aproximar-se do seu próprio passado soterrado tem de se comportar como um homem que escava. Fundamental é que ele não receie regressar repetidas vezes à mesma matéria (Sachverhalt) - espalhá-la, tal como se espalha terra, revolvê-la, tal como se revolve o solo. Porque essas «matérias» mais não são do que estratos dos quais só a mais cuidadosa investigação consegue extrair aquelas coisas que justificam o esforço da escavação. Falo das imagens que, arrancadas a todos os seus contextos anteriores, estão agora expostas, como preciosidades, nos aposentos sóbrios da nossa visão posterior - como torsos na galeria do colecionador. E não há dúvida de que aquele que escava deve fazê-lo guiando-se por mapas do lugar. Mas igualmente imprescindível é saber enterrar a pá de forma cuidadosa e tateante no escuro reino da terra. E engana-se e priva-se do melhor quem se limitar a fazer o inventário dos achados, e não for capaz de assinalar, no terreno do presente,  o lugar exato em que guarda as coisas do passado. Assim, o trabalho da verdadeira recordação (Erinnerung) deve ser menos o de um relatório, e mais o da indicação exata do lugar onde o investigador se apoderou dessas recordações. Por isso, a verdadeira recordação é rigorosamente épica e rapsódica, deve dar ao mesmo tempo uma imagem daquele que se recorda, do mesmo modo que um bom relatório arqueológico não tem apenas de mencionar os estratos em que foram encontrados os achados, mas sobretudo os outros, aqueles pelos quais o trabalho teve de passar antes.»

Walter Benjamin, Imagens de Pensamento

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

I. Philippe Jaroussky & Concerto Koln: Airs oublies

Coerência

«Outra coisa que nos faz desconfiar da confiança em nós próprios é a nossa atitude de coerência, de reverência pelo que dissemos ou fizemos, pois trata-se das únicas reverências dos olhares dos outros para julgarem a órbita em que nos movemos, e sentimos relutância em desapontá-los.
Mas porque deveríamos andar com a cabeça entre os ombros arrastando esse cadáver da nossa memória, por medo de contradizer o que afirmámos num ou noutro local público? Imaginemos que sejais levados a contradizer-vos: e depois? Parece ser uma regra de sabedoria  nunca contar só com a memória, ainda menos quando se trata de actos de pura memória, mas submeter o passado ao julgamento do presente, sob múltiplos aspectos, e viver cada dia como um dia novo. Na vossa metafísica recusastes atribuir uma personalidade à Deidade; contudo, quando chegam os devotos impulsos da alma, cedeis-lhes inteiramente, de todo o coração, apesar de eles poderem revestir Deus de forma e de cor. Abandonai a vossa teoria, como José abandonou o seu manto nas mãos da meretriz, a parti.
Este espírito de coerência tola é o diabrete das mentes pusilânimes, venerado por homens de Estado, filósofos e teólogos de pouca envergadura. Uma grande alma não precisa dele para nada. Da mesma maneira, poderia preocupar-se com a sua sombra no muro. Hoje, expressai alto e bom som o que sentis e no dia seguinte utilizai de novo palavras fortes para exprimirdes o que pensais, mesmo que isso contradiga tudo o que dissestes então. «Ah, assim podereis ter a certeza de que não sereis compreendido.» E será assim tão mau, não ser compreendido? Pitágoras não foi compreendido, tal como Sócrates, Jesus, Copérnico, Galileu, Newton, tal como todos os espíritos sábios e puros que existiram através da História. Ser grande é ser incompreendido.»

Ralph Waldo Emerson, A Confiança em Si, A Natureza e Outros Ensaios

Arcade Fire - Wake Up | Reading Festival 2010 | Part 16 of 16

Spoken by Prospero

Now my charms are all o'erthrown,
And what strenght I have's mine own, -
Which is most faint: now 'tis true,
I must be here confined by you,
Or sent to Naples. Let me not,
Since I have my dukedom got,
And pardon 'd the deceiver, dwell
In this bare island by your spell;
But release me from my bands
With the help of your good hands.
Must fill, or else my project fails,
Which was to please. Now I want
Spirits to enforce, art to enchant;
And my ending is despair
Unless I be relieved by prayer;
Which pierces so, that it assaults
Mercy itself, and frees all faults.
As you from crimes would pardon 'd be,
Let your indulgence set me free.

William Shakespeare, The Tempest

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Purcell: The cold song | Andreas Scholl

Malinconia

Calante malinconia lungo il corpo avvinto
al suo destino

Calante notturno abbandono
di corpi a pien'anima presi
nel silenzio vasto
che gli occhi non guardano
ma un'apprensione

Abbandono dolce di corpi
pesanti d'amaro
labbra rapprese
in tornitura di labbra lontane
voluttà crudele di corpi estinti
in voglie inappagabili

Mondo

Attonimento
in una gita folle
di pupille amorose

In una gita che se ne va in fumo
col sonno
e se incontra la morte
e il dormire più vero

Giuseppe Ungaretti

domingo, 1 de janeiro de 2012

Charpentier: Magnificat for 3 Voices

Disciplina

I lavori cominciano all'alba. Ma noi cominciamo
un po' prima dell'alba a incontrare noi stessi
nella gente che se va per la strada. Ciascuno ricorda
di esser solo e aver sonno, scoprendo i passanti
radi - ognuno trasogna fra sé,
tanto sa che nell'alba spalancherà gli occhi.
Quando viene il mattino ci trova stupiti
a fissare il lavoro che adesso comincia.
Ma non siamo piú soli e nessuno piú ha sonno
e pensiamo con calma i pensieri del giorno
fino a dare in sorrisi. Nel sole che torna
siamo tutti convinti. Ma a volte un pensiero
meno chiaro - un sogghigno - ci coglie improvviso
e torniamo a guardare come prima del sole.
La città chiara assiste ai lavori e ai sogghigni.
Nulla può disturbare il mattino. Ogni cosa
può accadere e ci basta di alzare la testa
dal lavoro e guardare. Ragazzi scappati
che non fanno ancor nulla camminano in strada
e qualcuno anche corre. Le foglie dei viali
gettan ombre per strada e non manca che l'erba,
tra le case che assistono immobili. Tanti
sulla riva del fiume si spogliano al sole.
La città ci permette di alzare la testa
a pensarci, e sa bene che poi la chiniamo.

Cesare Pavese, Lavorare Stanca