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Aluno e Professor. Sempre aluno.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Pearls

Iludo-me na justa crença de que posso ser outro, de que posso ser aquilo que os meus sentidos e a minha cabeça me dizem para que eu seja. Sei que sou capaz de ser outro numa espécie de esquizofrenia que me chega a fazer crer que serei mesmo capaz de ser um outro a quem me dirija de mãos abertas, porque apenas assim me sou capaz de dirigir aos outros. Esse é o gesto que tenho treinado sempre: seguir ao encontro do outro de mãos abertas. Para isso tenho treinado e por causa disso, quando olho para a adversidade sei encontrar aquilo que nela é circunstancial, passageiro, como, afinal de contas, tudo o resto, se assim entendermos a nossa insignificância absoluta. A contingência do presente é apenas o lugar onde aprecio o modo como a sociedade de bem-estar tornou mimados aqueles que agora mais se queixam da vida.
Lembro-me bem de ver pessoas, adultos, crianças, caminhando despidos pela rua em pleno inverno, na terra onde cresci. Lembro-me da quantidade de pessoas sem teto que viviam na rua que ficava abaixo da minha. Lembro-me do tempo em que alguém que me era próximo se esforçava por distribuir alimentos por aqueles que mais necessitavam. Lembro-me de uma terra onde não havia nem direito à saúde, nem à educação. Por mais que as privações nos batam à porta, os ganhos são tão assinaláveis que apenas num silêncio contemplativo poderei exprimir-me.
Enquanto tanto de extraordinário nos aconteceu, houve sempre uma mulher na Somália ou noutro lugar qualquer do mundo a lutar. Silenciosamente.
E continua… 

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