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quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Niilismo

«A era de Nietzsche - «uma vez que o velho Deus abdicou, governarei o mundo doravante» -, a era do niilismo, manifestou-se muito antes do que ele ousara suspeitar. Catorze anos depois da sua morte iniciou-se a Primeira Guerra Mundial. Depois a Europa ficou nas garras do fascismo, do comunismo e nazismo. E sofreu outra guerra. Uma orgia de violência triunfou sobre a verdade, a bondade e a beleza. O ideal de civilização foi desprezado. Dezenas de milhões de pessoas aplaudiram, admiraram e apoiaram a violência. Dezenas de milhões de vidas foram aniquiladas. O niilismo acaba sempre, inevitavelmente, em violência e aniquilação.
O niilismo começa sempre - a lúcida análise de Nietzsche não deixa margem para qualquer equívoco neste aspeto - por roubar à existência humana a possibilidade de elevar o ser acima da sua natureza animal. Este roubo da eternidade como do espírito dota a humanidade com a nobreza que permite a cada pessoa ser a imagem de valores universais e intemporais. Com este roubo começa a «reavaliação de todos os valores» assim como a distorção de todo o significado que Sócrates previu. A liberdade - difícil e trágica liberdade - já não é mais o espaço de que o indivíduo necessita para praticar a aquisição da dignidade humana; é antes a perda dessa dignidade a favor da idolatria do ideal animal: tudo é permitido. O significado é desconhecido, o sentimento é substituído pelo objetivo. Experiências «divertidas» e «saborosas» substituem o conhecimento do bem e do mal. Porque o eterno não existe, tudo tem de ser agora, novo e rápido. ninguém pode ser mais sábio, portanto todos têm razão. Todos são o mesmo, portanto o que é difícil é antidemocrático. A arte transforma-se em entretenimento, e a fama das coisas ou das gentes é importante. A declaração de Gracian de que o peso material determina o valor do ouro mas o peso moral determina o valor humano é posta às avessas. A moral? A cada um a sua moral! A matéria reina e, em todos os pequenos deuses que se pavoneiam, o ouro é a divindade suprema. O que é bom para o ouro é bom para ti. Portanto, comercializa-te! Adapta-te! Tudo o que te tornar mais rico é útil, e o que, ou quem, não for divertido, não for delicioso, é de facto inútil, pode desaparecer. Toda a gente por si, e ninguém por todos nós.
É este niilismo da sociedade de massas que, como um cancro, ataca a civilização, o tecido conectivo da ordem social, e o destrói. O que resta sem esse tecido é uma quantidade ilimitada de indivíduos separados que no fim procuram destruir-se uns aos outros porque já não estão unidos por um valor universal mas seduzidos pela ideia de «eu sou livre, portanto tudo é permitido». Resta-nos saber em que medida a sociedade ocidental está invadida por este niilismo. A questão mais importante é: de onde veio este niilismo?»

Rob Riemen

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