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terça-feira, 15 de novembro de 2011

Tempo

«A distinção absoluta primitiva entre tempo e ternidade no pensamento Cristão - entre nunc movens com o seu princípio e fim e nunc stans, a posse perfeita da vida infinda - adquiriu uma terceira ordem  intermediária baseada nesta posição muito singular de "nem numa nem noutra" dos anjos. Mas tal como o Princípio da Complementaridade, esta ficção-concórdia em breve provou que tinha utilidade fora do seu contexto imediato, a angeologia. Porque serviu como um meio para se falar sobre certos aspectos da experiência humana, foi humanizada. Ajudou as pessoas a pensar na sensação que os homens às vezes têm de participar numa qualquer ordem de duração que não seja do nunc movens de poderem, por assim dizer, fazer tudo o que os anjos fazem. Estes momentos são os tais a que Agostinho chama os momentos daquilo a que os psicólogos chamam a "integração temporal". Quando Agostinho recitava o seu salmo, encontrou nele uma imagem para a integração do passado, presente e futuro, que desafia o tempo consecutivo. Descobriu aquilo a que agora erradamente se refere como "forma espacial". Ele estava a antecipar o que sebemos da relação entre livros e a terceira ordem de duração de S. Tomás - porque na espécie de tempo que os livros  conhecem , um momento tem perspectivas infindas da realidade. Sentimos, nas palavra de Thomas Mann, que "no seu começo existe o seu meio e o seu fim, o seu passado invade o presente e até a mais extrema atenção ao presente é invadida pela preocupação com o futuro". O conceito de aevum fornece uma forma de falar sobre esta variedade invulgar de duração - nem temporal nem eterna, mas, segundo Aquino disse, participando tanto no temporal como no eterno. Não elimina o tempo nem o espacializa; coexiste com o tempo, e é uma forma nas quais as coisas podem ser perpétuas sem serem eternas.»

Frank Kermode, A Sensibilidade Apocalíptica

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