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sábado, 5 de fevereiro de 2011

Seta de Fogo

«Por vezes vêm essas ânsias, e lágrimas, e suspiros, e os grandes ímpetos que já disse (que tudo isto parece que procede do nosso amor com grande sofrimento, mas tudo não é nada comparado com esta outra coisa, porque esta parece um fogo que lança fumo e pode suportar-se, embora sofrendo); andando assim esta alma a abrasar-se em si mesma, acontece muitas vezes por um pensamento muito leve ou por uma palavra que ouve de que demora o morrer, vir de algures - não se entende de onde nem como - um golpe, ou como se viesse uma seta de fogo (não digo que seja uma seta, mas seja o que for, vê-se claramente que não podia proceder da nossa natureza; tão-pouco é um golpe, embora eu lhe chame golpe; fere mais profundamente, e não é onde se sentem cá as dores - parece-me -, mas no mais fundo e íntimo da alma), onde este raio, que num instante atravessa tudo o que acha de terreno na nossa natureza e o deixa feito em pó, que enquanto dura é impossível ter presente seja o que for do nosso ser; pois num momento ata as potências de maneira que não ficam com nenhuma liberdade para nada, senão para o que lhe há-de aumentar esta dor.»

Santa Teresa de Jesus, Moradas del castillo interior, 6, XI

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