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domingo, 20 de fevereiro de 2011

Ana Karenina

«Todas as famílias felizes se assemelham umas às outras, mas todas as famílias infelizes são infelizes à sua maneira.
Havia grande confusão em casa dos Oblonski. A esposa acabava de saber das relações do marido com a preceptora francesa, e comunicara-lhe que não podiam continuar a viver juntos. Durava já há três dias a situação, para tormento não só do casal mas também dos demais membros da família e da criadagem. Todos em casa se apercebiam de que já não havia razão alguma para manter aquele convívio, e que as pessoas que por acaso se encontrassem numa estalagem teriam talvez mais afinidades entre si. A esposa não saía dos seus aposentos; havia três dias que o marido não parava em casa; as crianças corriam de um lado para o outro, como se estivessem perdidas; a preceptora inglesa indispusera-se com a governanta e escrevera a uma amiga pedindo que lhe arranjasse outra colocação; na véspera, o cozinheiro abandonara a casa à hora do jantar; o cocheiro e a copeira tinham pedido que lhes fizessem as contas.
No terceiro dia após a altercação, o príncipe Stepane Arkadievitch Oblonski - Stiva, como lhe chamavam os íntimos - acordou à hora do costume, ou seja, às oito da manhã, não no quarto conjugal, mas no escritório, deitado no divã de couro. Revolveu o corpo, gordo e bem tratado, sobre as molas do divã, como se quisesse adormecer de novo, e abraçou-se ao travesseiro, apertando-o contra a face. De repente, porém, sentou-se e abriu os olhos.»

Lev Tolstoy, Ana Karenina

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