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quinta-feira, 11 de outubro de 2012

O Mestre

«Se o mestre houver de ser a ocasião que faz o aprendiz lembrar-se, então não pode contribuir para que este se recorde de que sabe propriamente a verdade, uma vez que o aprendiz é de facto a não-verdade. Sendo assim, aquilo de que o mestre pode ser ocasião para que o aprendiz se recorde é que este é afinal a não-verdade. Porém, com esta reflexão, o aprendiz fica precisamente excluído da verdade, mais ainda do que quando se encontrava ignorante de que era a não-verdade. Deste modo, o mestre afasta por conseguinte de si o aprendiz precisamente ao fazê-lo lembrar-se; só que o aprendiz, pelo facto de assim se ver obrigado a virar-se para dentro de si mesmo, não descobre que sabia previamente a verdade, antes descobre a sua não-verdade, um acto de consciência em cuja perspectiva se aplica o princípio socrático de que o mestre é apenas ocasião, seja ele quem for, mesmo que seja um deus; porque a minha própria não-verdade só a posso descobrir por mim mesmo, já que, só quando eu descubro que assim, é, está tal facto descoberto, mas não antes, ainda que todo o mundo o soubesse. (À luz da pressuposição que admitimos sobre o instante, esta torna-se a única analogia com a atitude socrática.)

Soren Kierkegaard, Migalhas Filosóficas

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