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sábado, 6 de outubro de 2012

Magnânimo

«É próprio do magnânimo não pedir ajuda a ninguém ou então só a custo, mas estar sempre pronto para ajudar; ser grandioso junto dos que têm uma posição de poder e daqueles que têm sucesso, mas ser moderado junto dos que estão numa posição média, porque é difícil, mas dá uma grande satisfação, ser superior aos primeiros mas não dá uma grande satisfação ser-se superior aos segundos, porque é fácil. Exaltar-se junto dos que nos são superiores não é ignóbil, mas fazê-lo junto dos humildes é mesquinho, tal como se os fortes quisessem medir forças com os que são muito fracos. O magnânimo não procura ocupar os lugares de honra habitualmente cobiçados. Não é muito activo, é até lento a agir, a não ser quando se trata de uma grande honra ou de um grande feito. E entra em acção em poucas situações, e só quando se trata de grandes obras e de nomeada. É necessário também que o magnânimo seja transparente tanto em questões de ódio como em questões de amor (porque procurar esconder-se revela medo e uma despreocupação com a verdade maior do que com a fama); que fale e aja abertamente (é franco, fala sinceramente porque despreza as consequências da sua franqueza, e é sincero excepto quando usa ironia relativamente aos outros). Ele é incapaz de viver a sua vida seguindo um outro qualquer, a não ser orientado por um amigo. Uma tal conduta seria subserviente e assim todos os bajuladores são servis e todos os inferiores são bajuladores. Não se deixa arrebatar facilmente porque nada tem facilmente uma grande importância para ele. Demais, não guarda ressentimento. Pois, não é próprio do magnânimo recordar-se das coisas, sobretudo se são especialmente más, mas antes ultrapassá-las. Demais, não entra em coscuvilhices acerca de terceiros. Porque não falará de outrem como não fala de si. Nem sequer lhe interessa ser elogiado ou que os outros sejam criticados. Não elogia facilmente, mas também não diz dos outros, nem sequer dos seus inimigos, a não ser que tenham cometido alguma insolência. Queixa-se o menos possível e não pede que se interceda em seu favor tanto em situações de pouca monta quanto em situações de grande aflição. Comportar-se desse modo era levar as coisas demasiadamente a sério. É mais capaz de possuir coisas belas e inúteis do que úteis e vantajosas. Aquelas revelam uma disposição de carácter mais independente. Distinguem ainda o magnânimo o modo de andar lento, a voz grave, a dicção estável. Quem se preocupa apenas com poucas coisas não ficará facilmente sob pressão, e quem não faz grande caso de coisa nenhuma não terá nenhuma tensão. Tal é o magnânimo, porque uma voz aguda e os movimentos apressados resultam de uma grande pressão que se faz sentir.»

Aristóteles, Ética a Nicómaco (1124b20 - 1125a15)  

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