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terça-feira, 13 de setembro de 2011

A vida natural

«A vida natural é uma vida configurada. O natural é a forma ínsita na vida e posta ao seu serviço. Se a vida se separar de tal forma, se pretender afirmar-se independentemente dela, se não quiser deixar-se servir pela forma do natural, destrói-se a si mesma até às raízes. A vida que se põe de modo absoluto como fim para si mesma autodestrói-se. O vitalismo desemboca necessariamente no niilismo, na destruição total do natural. A vida em si é, pois, um nada, um abismo, uma queda; é movimento sem fim, sem objectivo, movimento para o nada. Nunca descansa antes de ter implicado tudo neste movimento aniquilador. Este vitalismo está presente na vida individual e comunitária. Nasce da falsa absolutização de um conhecimento de per si justo, isto é, do conhecimento de que a vida não é só um meio para um fim, antes um fim em si mesma; e também este conhecimento vale quer para a vida individual quer para a vida comunitária. Deus quer a vida e dá-lhe uma forma que lhe permita viver, porque abandonada a si mesma pode somente aniquilar-se. Mas tal forma põe, ao mesmo tempo, a vida ao serviço de outras vidas e do mundo e faz dela, em sentido limitado, um meio para um fim. E como existe uma absolutização da vida enquanto vida fim para si mesma, tal como existe o vitalismo que aniquila a vida, assim existe também uma absolutização da vida como meio para um fim, absolutização que tem as mesmas consequências; e também isto vale para o indivíduo e para a comunidade. Podemos chamar a este falso caminho a mecanização da vida. Aqui o indivíduo considera-se apenas no seu valor utilitário para o todo, e a comunidade vê-se apenas no seu valor utilitário para uma instituição, organização ou ideia sobre-ordenada. O colectivo é o deus a que se sacrifica a vida individual e comunitária num processo de total mecanização. Aqui se extingue a vida, e a forma que existe para servir a vida assume o domínio ilimitado sobre a vida. O ser-fim para si mesma da vida é inteiramente abolido, e a vida precipita-se no nada; portanto,  logo que a mecanização matou a vida, ela própria, que só da vida extraía a sua força, deve em si mesma colapsar.»

Dietrich Bonhoeffer, Ética

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