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quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Riquezas

«Passemos à posse de riquezas, causa principal das misérias dos humanos. Na verdade,  se comparares todas as outras coisas que nos causam aflição - as mortes, as doenças, os medos, os desejos, as dores e os trabalhos - com os males que o dinheiro nos traz, a balança penderá sem dúvida para este lado. Devemos, por isso, pensar quão mais leve é a dor de nada ter do que a de perder o que se tem, e perceberemos que a pobreza provoca tormentos bem menores, porque também bem menores são as ocasiões de prejuízo. É, de facto, um erro pensar que os ricos acolhem as suas perdas corajosamente: tanto nos corpos grandes, como nos pequenos, as feridas são igualmente dolorosas. Bion afirmou, com elegância, que não é menos doloroso que arranquem os cabelos aos calvos do que é aos cabeludos. O mesmo acontece com os pobres e os opulentos, pois o seu sofrimento é igual: ambos estão de tal forma apegados aos seu dinheiro, que é impossível arrancar-lho sem ficarem ressentidos. É, de facto, mais suportável e mais simples não adquirir do que perder, e é por isso que vemos mais felizes aqueles que nunca viram a fortuna do que aqueles que ela abandonou. Isto viu Diógenes, varão de alma grandiosa, e zelou por que nada lhe pudesse ser tirado. Podes chamar a isto pobreza, miséria, carência, atribui a esta segurança os nomes que quiseres: passarei a pensar que este homem não era feliz, quando me indicares outro homem que nada possa perder. Ou muito me engano, ou ser rei é viver entre homens avaros, fraudulentos, ladrões e plagiários, e ser o único que não pode ser afectado por nenhum deles. Se alguém duvida da felicidade de Diógenes, pode também duvidar da condição imortal dos deuses, ou se eles são infelizes por não terem propriedades, nem jardins, nem terras valiosas, cultivadas por um colono, nem capitais de alto rendimento na praça. Não tens vergonha de te sentires  fascinado pelas riquezas? Olha bem para os céus: verás os deuses nus, que tudo oferecem e nada têm. Achas que este homem, que se despojou de todas as coisas passageiras, é semelhante aos pobres ou aos deuses imortais?»

Séneca, A Felicidade e a Tranquilidade da Alma

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