Acerca de mim

A minha foto
Oeiras, Portugal
Aluno e Professor. Sempre aluno.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Alice, por fim...

De acordo com Humpty Dumpty um nome denota e determina uma forma. Um nome não se refere apenas ao seu portador, mas determina a forma do seu portador. Deste modo, a forma, na perspectiva de Humpty Dumpty, é apresentada, por um lado, como objecto de denotação à posteriori, e, por outro, como efeito do uso do nome, daqui decorrendo que as palavras têm consequências físicas, capazes de determinarem, partindo da forma adquirida pelo portador de um determinado nome próprio, se o nome é bom ou mau.
Humpty Dumpty interpreta perguntas de forma a entendê-las como capazes de terem uma solução. É o caso, por exemplo, da pergunta sobre a extensão ou significado de “estar aqui sozinho”, apresentando como resposta “porque não tenho ninguém ao pé de mim”, como se a solução para a resposta (esta resposta) resultasse simplesmente da sua extracção a partir da forma da pergunta. Por conseguinte, Humpty Dumpty entende todas as perguntas como se fossem adivinhas, o que, para ele, corresponde a poder responder a todas as perguntas, visto que, procedendo deste modo, a resposta não depende do conhecimento, tratando-se, então, de derivar a resposta dos termos da pergunta formulada.
Para Humpty Dumpty, adivinhas são coisas que podem não ser notoriamente adivinhas, mas que podem ser adivinhas. Tal como os poemas. O significado de uma adivinha, como dos poemas, encontra-se no interior da pergunta, daqui resultando um método que não distingue quem percebe de quem não percebe alguma coisa. Sendo assim, responder a uma pergunta implica interpretar, enquanto que responder a uma adivinha, não implica interpretar. O confronto que se apresenta no texto, corresponde àquilo que ocorre com Alice, no momento em que ela interpreta uma coisa que não era para interpretar, ao afirmar a sua idade, em contraponto com a maneira como Humpty Dumpty reage a qualquer pergunta. Com efeito, Alice calcula, reconhece a distinção entre sentido e intenção e, por isso mesmo, interpreta, enquanto que Humpty Dumpty não reconhece, não calcula e, por esse motivo, não interpreta. Daqui decorre que, para Humpty Dumpty, não é possível saber-se o significado de nenhum termo antes que ele seja estipulado por quem fala, esgotando-se em cada ocorrência, numa máquina de estipular imparável.
De certo modo, aquilo que em Humpty Dumpty se encontra em relação a adivinhas, parece ter uma correspondência com a ideia de moral de que podemos dar conta em relação à Duquesa. Para um como para o outro, adivinhas e morais, respectivamente, têm uma relação com a forma do que se afirma, não com questões relacionadas com cálculo ou com interpretação, envolvendo, assim, uma ideia de que é possível extrapolar seja o que for em relação a qualquer coisa.

Sem comentários: