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sexta-feira, 27 de abril de 2012

Políticos

«De resto,que podia ele fazer neste país?... Quando voltara de França, ultimamente, pensara em entrar na diplomacia. Para isse sempre tivera blague: e agora que a mamã, coitada, lá estava no seu grande jazigo em Celorico, tinha a massa. Mas depois reflectira. Por fim, em que consistia a diplomacia portuguesa? Numa outra forma de ociosidade, passada no estrangeiro, com o sentimento constante da própria insignificância. Antes o Chiado!
E como Carlos lembrava a política, ocupação dos inúteis. Ega trovejou. A política! Isso tornara-se moralmente e fisicamente nojento, desde que o negócio atacara o constitucionalismo como uma filoxera! Os políticos hoje eram bonecos de engonços, que faziam gestos e tomavam atitudes porque dois ou três financeiros por trás lhes puxavam pelos cordéis... Ainda assim podiam ser bonecos bem recortados, bem envernizados. Mas qual! Aí é que estava o horror. Não tinham feitio, não tinham maneiras, não se lavavam, não limpavam as unhas... Coisa extraordinária, que em país algum sucedia, nem na Roménia, nem na Bulgária! Os três ou quatro salões que em Lisboa recebem todo o mundo, seja quem for, largamente, excluem a maioria dos políticos. E porquê? Porque as «senhoras têm nojo»!»

Eça de Queirós, Os Maias

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