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domingo, 29 de abril de 2012

Arbítrio

«Atinge o género humano a perfeição quando desfruta duma grande liberdade. E é esta asserção evidente se se compreende o princípio da liberdade. Recorde-se, então, que o aspecto primacial da nossa liberdade é o livre arbítrio que tantos trazem na boca e tão poucos na inteligência. Dizem ser o livre arbítrio o juízo livre que mana da vontade. E dizem a verdade. Não abrangem, porém, o sentido das palavras que pronunciam. Assim repetem os nossos lógicos, durante todo o dia, sem as compreender, as proposições que aduzem para ilustração das regras. Por exemplo, esta proposição: a soma dos ângulos dum triângulo é igual a dois rectos.
Quanto a mim, penso que o juízo se situa entre a apreensão e o apetite: apreende-se, primeiro, o objecto; julgamo-lo, em seguida, bom ou mau; o julgador, por último, ou o persegue ou lhe foge. Se o juízo move assim de tão completa forma o apetite, e se, de modo nenhum, recebe deste o menor impulso, é que o juízo é livre; se, pelo contrário, o juízo é movido, seja como for, do apetite, não podemos considerá-lo livre: não age por si mesmo, é cativo de outrem. Eis porque os animais irracionais não podem ter um juízo livre; os seus juízos são sempre precedidos do apetite. E eis, outrossim, porque as substâncias intelectuais cujas vontades são imutáveis, e ainda as almas separadas, que dos bens desta vida se apartaram, não perdem a liberdade de arbítrio, fundada na imutabilidade da vontade. Longe de perdê-la, conservam-na em perfeitíssimo e poderosíssimo estado.»

Dante Alighieri, Monarquia 

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