Quais são então as razões que nos levam a achar necessário enganarmo-nos uns aos outros assim tão abertamente? É que esses conceitos, essas virtudes, subsistem na consciência das nossas classes dominantes. Mas, acrescente-se, na sua má consciência. E não há dúvida de que só existirá uma arte verdadeira onde existir realmente verdade e nobreza de espírito. De há séculos a esta parte que os espíritos mais nobres, espíritos que Ésquilo e Sófocles teriam aceite jubilosamente por irmãos, vêm levantando a voz no meio do deserto. Ouvimo-los e o chamamento ainda ecoa nos nossos ouvidos. Mas esse eco deixámo-lo já extinguir-se nos nossos corações plenos de vaidosa vulgaridade. Podemos tremer perante a glória de tais homens, mas escarnecemos da sua arte, podemos conceder-lhes o título de artistas sublimes, mas liquidamos-lhes afinal as obras produzidas, porque aquilo que é grande, real e único numa obra de arte não está inteiramente na mão do artista e tem que ser também efectuado por nós. A tragédia de Ésquilo ou de Sófocles era obra de Atenas.»
Richard Wagner, A Arte e a Revolução
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