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domingo, 18 de novembro de 2012

A Alliança Iberica

«Postos estes preliminares, resta examinar, mais profundamente, quaes as condições basilares d'essa orientação, iberica, a seguir. Que sentido real tem o exposto, de que devemos, portuguezes e hespanhoes, agir separados e conjuntos? Em que ponto deve haver entre nós separação, e em que ponto combinação de esforços?
A questão é exaggeradamente simples. Devemos ser separados em tudo o que seja problemas nacionaes, juntos em tudo o que seja problemas civilizacionaes. Instituições, costumes, convém que tudo isso seja differente em um, e outro, povo. Orientação perante a Europa, convém que seja em ambos a mesma.
Cousas ha que nos separam nacionalmente: o facto, por exemplo, de sermos um paiz colonial, e o de a Hespanha já o não ser. Conservemos as outras cousas que nos separam: a republica aqui e a monarchia lá (urge que nenhuma sympathia vá de nós para os republicanos hespanhoes, gente aliás, de curtas vistas em materia nacional), o anti-catholicismo entre nós, e entre elles o catholicismo.
Um facto fundamental nos separa; toda a approximação resultará que um de nós ignora a essencia sua, ou ambos a ignoram. Quando da nossa grandeza, de ambos, nós, forçados pelos resultados das descobertas a assumir um imperialismo, fômos tomar uma attitude hespanhola. De ahi a nossa queda sob domnio da Hespanha.
O facto fundamental que nos separa é este: a Hespanha é uma nação composta de varias nacionalidades; nós somos uma nação unitaria, homogenea, tanto quanto é possivel se-lo uma nação que não é mera Andorra ou San Marino.
Resulta d'esta radical differença - á qual a differença fundamental de clima, e portanto de indole, se junta - uma inevitavel logica dessemelhança de instituições. Alli a monarchia é necessaria, a não ser que se queira a Hespanha desfeita nas nacionalidades que a compõem; aqui a republica basta, e torna-se desnecessaria a monarchia, porquanto não temos nada a unificar, o paiz estando, por si, unificado. Só é admisivel a monarchia onde não convém haver republica. Onde uma ou outra pode existir, deve existir a republica, porque é o mais avançado e indisciplinador dos dois systemas.
O inimigo da Iberia é, em primeiro lugar, a França. A alma franceza é fundamentalmente hostil á alma iberica em qualquer das suas formas - salvo, talvez, na catalan.
Combater a formula franceza de civilização deve ser um dos pontos onde se junte o esforço iberico, e claramente se concentre.
A indole profundamente nacionalista da Hespanha oppõe-se ao feitio profundamente cosmopolita de Portugal. Parece haver aqui, já, um elemento que prejudicará toda a conjuncção d eesforços. Mas não é assim. O ieal pode ser commum, a orientação diversa. Convém, mesmo, que assim seja. Só a direcção geral civilizacional deve ser commum á Hespanha e a Portugal. Mais estreita communidade involveria aquella approximação que, como disse, é precisamente uma das cousas a evitar.»

Fernando Pessoa, Ibéria, Introdução a um Imperialismo Futuro

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