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sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Nudez

«A afirmação ou verificação da própria nudez é a resposta de Job à notícia da perda de tudo aquilo que tornava a sua vida viável. A nudez corresponde à condição de Job, antes de adquirir tudo o que adquiriu («nu saí do ventre de minha mãe») e depois de lhe ter sido retirado tudo o que havia sido objecto de aquisição. A nudez corresponde, assim, ao núcleo do sujeito desprovido de aquisição e traduz a separabilidade entre o próprio ser do sujeito e tudo aquilo que pode tornar-se seu por aquisição. E isto de tal modo que a noção de nudez aponta justamente que o núcleo do próprio ser do sujeito só por si não basta, está radicalmente dependente da aquisição. Por outras palavras, a determinação da nudez tem, por um lado, uma conexão fundamental com a questão da aquisição (corresponde à marcação de uma insuficiência, da falta de algo mais - a nudez é nudez de qualquer coisa que permita cobri-la, superá-la). Por outro lado, a nudez a que Job faz referência tem que ver com a falta (e, portanto, com a aquisição) de algo que permita a própria vida. Finalmente, trata-se de uma nudez tal que a falta a que corresponde e a questão de aquisição que suscita é, como Adquirir a sua alma na paciência pretende fazer crer, a falta e a aquisição da alma. Ou seja, neste Discurso Edificante apresenta-se a nudez de que fala Job, a nudez que caracteriza os seres humanos naquilo que os constitui - ou seja, aquela falta de algo mais que viabilize a vida que afecta de raiz os seres humanos - como sendo uma nudez que só pode ser «vestida» pela aquisição da alma e, nesse sentido, uma nudez da alma.


N. Ferro e M. Jorge de Carvalho, nota a uma passagem a uma passagem de Adquirir a sua alma na paciência, de  Soren Kierkegaard

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