Acerca de mim

A minha foto
Oeiras, Portugal
Aluno e Professor. Sempre aluno.

sábado, 24 de abril de 2010

Ossip Mandelstam, Um Poema

Vivemos sem sentir o país sob os pés,
Nem a dez passos ouvimos o que se diz,
E quando chegamos enfim à meia fala
O montanheiro do Krémlin lá vem à baila.
Dedos gordurosos como vérmina gorda,
As palavras certas como pesos de arroba.
Riem-se-lhe os bigodes de barata,
Reluzem-lhe os canos da bota alta.

À volta a escumalha - guias de fino pescoço -
Nas vénias da semigente ele brinca com gozo.
Um assobia, o outro geme, aquele mia,
Só ele trata por tu, escolhe companhia.
Como ferraduras, lei 'trás de lei ele oferta,
Em cheio na virilha, olho e sobrolho e testa.
Cada morte que faz - crime malino
E o peitaço tem amplo, ossetino.

Novembro, 1933

Sem comentários: