Contudo, outros crêem que num qualquer momento da vida este pensamento da morte deve regular aquele que permanece da vida, que se torna, assim, uma preparação para a morte. Ora, a vida inteira é preparação para a morte, e não resta fazer até ao seu fim senão continuá-la, correspondendo com zelo e devoção a todos os deveres que dela se esperam. A morte chegará de forma a meter-nos em repouso, a retirar-nos das mãos a tarefa a que procurávamos corresponder, mas não pode fazer outra coisa que não seja interromper-nos, do mesmo modo que nós não podemos fazer mais do que deixarmo-nos interromper, porque ela não nos pode encontrar em ócio estúpido.
Na verdade, esta preparação para a morte é entendida por alguns como um recolhimento necessário da nossa alma em Deus, mas, também neste caso, ocorre observar que, com Deus, estamos e devemos estar em contacto durante toda a vida e nada de extraordinário agora acontece que nos imponha uma prática incomum. As almas piedosas, frequentemente, não pensam assim, e esforçam-se por obterem os favores de Deus, através de uma série de actos que deveriam corrigir o habitual egoísmo da sua vida precedente e que, pelo contrário, constituem a expressão última deste egoísmo.
Benedetto Croce, in Dal Libro dei Pensieri
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