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sábado, 25 de setembro de 2010

Acerca da Verdade e da Mentira no Sentido Extramoral

Num certo canto remoto do universo cintilante vertido em incontáveis sistemas solares havia uma vez um astro onde animais inteligentes inventaram o conhecimento. Foi o minuto mais soberbo e hipócrita da «história mundial», mas foi apenas um minuto. Depois de a natureza ter respirado umas poucas vezes, o astro enregelou e os animais inteligentes tiveram de morrer. Assim, alguém poderia inventar uma fábula como esta e, no entanto, não ficaria suficientemente esclarecido quão lastimável, quão obscuro e fugidio, quão desprovido de finalidade e arbitrário se apresenta o intelecto humano no interior da natureza. Eternidades houve em que ele não existia; quando ele tiver de novo desaparecido, nada se terá alterado. Pois para este intelecto não há outra missão que transcenda a vida humana. Antes pelo contrário ele é humano, e só o seu dono e progenitor o encara tão pateticamente como se ele fosse o eixo à volta do qual gira o mundo. Mas se nós conseguíssemos comunicar com um mosquito, saberíamos que também ele paira neste ambiente com a mesma presunção e se sente como centro voador deste mundo. Na natureza não há nada de tão censurável e limitado que não se inchasse qual tubo insuflável por meio de um pequeno sopro dessa força do conhecimento; e tal como todo e qualquer carregador ambiciona ter o seu admirador, assim o homem mais orgulhoso, o filósofo, julga ver de todos os lados os olhares do universo, quais telescópios dirigidos para o seu agir e pensar.

Fr. Nietzsche

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