Não
é cómodo falar daquilo que verdadeiramente importa quando se fala de
democracia, de liberdade, de justiça, de escola. Por esse motivo, carregamos de
verniz as conversas que vamos mantendo, evitando melindrar os outros, pois é
comum, por mais liberais que as pessoas se apresentem, ao verem-se confrontadas
com uma ideia que está do lado de fora das suas crenças, recuarem e fecharem-se
no seu cantinho de segurança. A ideia de segurança contém em gérmen a de
hipocrisia, o facto de se fazer tudo para manter uma aparência de ordem onde
não existe a possibilidade de essa ordem existir. O que existe é uma hipocrisia
instalada.
Os
ricos, por exemplo, têm razões para serem hipócritas e pretenderem defender uma
ordem particular. Eles são ricos, não pretendem que se verifiquem alterações no
seu modo de estar no mundo e na vida. O problema são os pobres. A pobreza não
tem que implicar uma hipoteca da dignidade. No entanto, muitos pobres receiam a
mudança, parecendo crer que têm mais para viver do que a própria miserável vida
que levam.
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