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terça-feira, 8 de março de 2016

Caos

«A vida ali era tão rigorosamente regulada e determinada que poderia ser compreendida geométrica e biologicamente. Era difícil acreditar que aquilo pudesse estar relacionado com as condições de vida intensas, selvagens e caóticas de outras espécies, por exemplo, com as concentrações excessivas de girinos ou de alevins ou de larvas de insectos, onde a vida parecia surgir de um poço inesgotável. Mas assim era. O caos e a imprevisibilidade são características essenciais da vida e do seu fim, não sendo possível a primeira sem o segundo, e embora empreendamos quase todos os nossos esforços para tentar evitar o fim, não é necessário mais do que um breve momento de desespero para que vivamos à sua luz, e não à sua sombra, como agora.. O caos é uma espécie de força de gravidade, e o ritmo que conseguimos perceber na História, da ascensão e queda de civilizações, talvez seja devido a isso. É admirável que os extremos se pareçam, pelo menos num certo sentido, pois, tanto no caos absoluto como num mundo rigorosamente regulado e determinado, o indivíduo não é nada, a vida é tudo. Do mesmo modo que ao coração não interessa por que vida palpita, a cidade não se importa com quem cumpre as suas várias funções. Daqui a cento e cinquenta anos, quando toda a gente que hoje se movimenta pela cidade tiver morrido, o tumulto da actividade humana ainda se fará sentir obedecendo aos mesmos velhos padrões. A única coisa nova serão as caras das pessoas, embora não assim tão nova, porque se parecerão connosco.
Atirei a beata do cigarro para o chão e bebi o último gole de café, já frio.
O que eu via era a vida, aquilo em que pensava era na morte.»

Karl Ove Knausgard, A Minha Luta:1, A Morte do Pai

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