«O idioma demoníaco é para o poeta o elemento insurrecto, a força que está para além do bem e do mal:
afastem de mim a inocência (truques, ele que perde
a ferro e esforço, poema trabalhado a energia alternativa, / a fervor e ofício):
a vida inteira para fundar um poema,/ a pulso. A mão que é devorada pelo poema,
o antigo, o novíssimo, outra versão do elemento insurrecto, demoníaco:
O homem não é uma criatura entre bem e mal. Nem a mão esquerda de Deus a conhece, se o poeta escreve Deus, fala com Deus, é porque acabou de reconhecer a potência, a unidade rítmica, mas
Deus não se debruça na canção, destroça / a cadência. Aquele que é queimado e grita enquanto sente o fogo pertence à substância fogo, É isso:
Aquele que disse; / eu tenho a temperatura de Deus - era um louco meteorológico. Assim que Deus com um dedo produz um electrochoque. Ser perseguido pelos deuses é uma boa prova da sua existência (diz Kierkegaard via Aristófanes).
Uma ordem gramatical para os elementos: água, fogo, cristal - o através, atrás, em. A terra essa está na casa, é mais do que um elemento, através dela abre-se o espaço da beleza elementar.»
Maria Filomena Molder, «Relação da Palavra Beleza em A Faca não corta o fogo de Herberto Helder, in Textos Pretextos
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