Io credo nelle persone, però non credo nella maggioranza delle persone. Anche in una società più decente di questa, mi sa che mi troverò a mio agio e d'accordo sempre con una minoranza. (Nanni Moreti)
Acerca de mim
sábado, 29 de junho de 2013
do tamanho da mão faço-lhes o poema da minha vida,
do tamanho da mão faço-lhes o poema da minha vida,
agudo e espesso,
pois aproveitou do que seria mênstruo,
e crepita agora,
o poema das mães conjuntas quando, ainda analfabetos,
procuramos as putas futuras,
e estremecemos às vezes de sacra folia,
trançados entre as coxas,
debaixo das bocas habilíssimas,
límpidos, loucos,
e são linhas sem tropeço, de osso, nervo, sangue, sopro
e qual a matéria, e a razão, e a coesão, a força, interna
do capítulo do assombro?
dans l'ivresse,
e então penso: isto é assim:
da exacerbada cantiga das mães a gente tem
o movimento que imita a terra com seus elementos, sem
ministérios do tempo, a aguarrás, o sal grosso, a tinta
das rosas
- e é tudo quando se pode aprender até que a noite venha
e desfaça,
a noite amarga
agudo e espesso,
pois aproveitou do que seria mênstruo,
e crepita agora,
o poema das mães conjuntas quando, ainda analfabetos,
procuramos as putas futuras,
e estremecemos às vezes de sacra folia,
trançados entre as coxas,
debaixo das bocas habilíssimas,
límpidos, loucos,
e são linhas sem tropeço, de osso, nervo, sangue, sopro
e qual a matéria, e a razão, e a coesão, a força, interna
do capítulo do assombro?
dans l'ivresse,
e então penso: isto é assim:
da exacerbada cantiga das mães a gente tem
o movimento que imita a terra com seus elementos, sem
ministérios do tempo, a aguarrás, o sal grosso, a tinta
das rosas
- e é tudo quando se pode aprender até que a noite venha
e desfaça,
a noite amarga
Herberto Helder
Idioma
«O idioma demoníaco é para o poeta o elemento insurrecto, a força que está para além do bem e do mal: afastem de mim a inocência (truques, ele que perde a ferro e esforço, poema trabalhado a energia alternativa, / a fervor e ofício): a vida inteira para fundar um poema,/ a pulso. A mão que é devorada pelo poema, o antigo, o novíssimo, outra versão do elemento insurrecto, demoníaco: O homem não é uma criatura entre bem e mal. Nem a mão esquerda de Deus a conhece, se o poeta escreve Deus, fala com Deus, é porque acabou de reconhecer a potência, a unidade rítmica, mas Deus não se debruça na canção, destroça / a cadência. Aquele que é queimado e grita enquanto sente o fogo pertence à substância fogo, É isso: Aquele que disse; / eu tenho a temperatura de Deus - era um louco meteorológico. Assim que Deus com um dedo produz um electrochoque. Ser perseguido pelos deuses é uma boa prova da sua existência (diz Kierkegaard via Aristófanes).
Uma ordem gramatical para os elementos: água, fogo, cristal - o através, atrás, em. A terra essa está na casa, é mais do que um elemento, através dela abre-se o espaço da beleza elementar.»
Uma ordem gramatical para os elementos: água, fogo, cristal - o através, atrás, em. A terra essa está na casa, é mais do que um elemento, através dela abre-se o espaço da beleza elementar.»
Maria Filomena Molder, «Relação da Palavra Beleza em A Faca não corta o fogo de Herberto Helder, in Textos Pretextos
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Herberto Helder,
Maria Filomena Molder
quarta-feira, 19 de junho de 2013
segunda-feira, 17 de junho de 2013
Um dia não muito longe/ não muito perto
Às vezes sabes sinto-me farto
por tudo isto ser sempre assim
Um dia não muito longe não muito perto
um dia muito normal um dia quotidiano
um dia não é que eu pareça lá muito hirto
entrarás no quarto e chamarás por mim
e digo-te que já não tenho pena de não responder
de não sair do meu ar vagamente absorto
farei um esforço parece mas nada a fazer
hás-de dizer que pareço morto
que disparate dizias tu que houve um surto
não sabes de quê não muito perto
e eu sem nada para te dizer
um pouco farto não muito hirto e vagamente absorto
não muito perto desse tal surto
queres tu ver que hei-de estar morto?
por tudo isto ser sempre assim
Um dia não muito longe não muito perto
um dia muito normal um dia quotidiano
um dia não é que eu pareça lá muito hirto
entrarás no quarto e chamarás por mim
e digo-te que já não tenho pena de não responder
de não sair do meu ar vagamente absorto
farei um esforço parece mas nada a fazer
hás-de dizer que pareço morto
que disparate dizias tu que houve um surto
não sabes de quê não muito perto
e eu sem nada para te dizer
um pouco farto não muito hirto e vagamente absorto
não muito perto desse tal surto
queres tu ver que hei-de estar morto?
Ruy Belo, Homem de palavra[s]
domingo, 16 de junho de 2013
1.º Presidente Eleito
Sucessivo trambolhão viável.
Rugido de terrinha,
10 de Junho abundante.
Protótipo de acervo global,
atenazado, objurgatório.
Auréola de bairro-de-lata.
O malhão do empresário e do trabalhador.
Desagua e debica gajada
função que premedita,
bandalha.
Rugido de terrinha,
10 de Junho abundante.
Protótipo de acervo global,
atenazado, objurgatório.
Auréola de bairro-de-lata.
O malhão do empresário e do trabalhador.
Desagua e debica gajada
função que premedita,
bandalha.
Joaquim Manuel Magalhães, Um Toldo vermelho
sábado, 15 de junho de 2013
II
Debaixo do colchão tenho guardado
da chuva que me alaga interiormente
Acordo cada dia com um corpo
que não aquele com que me deitei
e nunca sei ao certo se sou hoje
o projecto ou memória do que fui
Abraço os braços fortes mas exactos
que à noite me levaram onde estou
e, bebendo café, leio nas folhas
das árvores do parque o tempo que fará
Depois irei ali além das pontes
vender, comprar, trocar, a vida toda acesa;
mas com cuidado, para não ferir
as minhas mãos astutas de princesa.
o coração mais limpo desta terra
como um peixe lavado pela águada chuva que me alaga interiormente
Acordo cada dia com um corpo
que não aquele com que me deitei
e nunca sei ao certo se sou hoje
o projecto ou memória do que fui
Abraço os braços fortes mas exactos
que à noite me levaram onde estou
e, bebendo café, leio nas folhas
das árvores do parque o tempo que fará
Depois irei ali além das pontes
vender, comprar, trocar, a vida toda acesa;
mas com cuidado, para não ferir
as minhas mãos astutas de princesa.
António Franco Alexandre, Quatro caprichos
quinta-feira, 13 de junho de 2013
Mito
Verrà il giorno che il giovane dio sarà un uomo,
senza pena, col morto sorriso dell'uomo
che ha compreso. Anche il sole trascorre remoto
arrossando le spiagge. Verrà il giorno che il dio
non saprà più dov'erano le spiagge d'un tempo.
Ci si sveglia un mattino che è morta l'estate,
e negli occhi tumultuano ancora splendori
come ieri, e all'orecchio i fragori del sole
fatto sangue. È mutato il colore del mondo.
La montagna non tocca più il cielo; le nubi
non s'ammassano più come frutti; nell'acqua
non traspare più un ciottolo. Il corpo di un uomo
pensieroso si piega, dove un dio respirava.
Il gran sole à finito, e l'odore di terra,
e la libera strada, colorata di gente
che ignorava la morte. Non si muore d'estate.
Se qualcuno spariva, c'era il giovane dio
che viveva per tutti e ignorava la morte.
Su di lui la tristezza era un'ombra di nube.
Il suo passo stupiva la terra.
Ora pesa
la stanchezza su tutte le membra dell'uomo,
senza pena: la calma stanchezza dell'alba
che apre un giorno di pioggia. La spiagge oscurate
non conoscono il giovane, che un tempo bastava
le guardasse. Né il mare dell'aria rivive
al rispiro. Si piegano le labbra dell'uomo
rassegnate, a sorridere davanti alla terra.
senza pena, col morto sorriso dell'uomo
che ha compreso. Anche il sole trascorre remoto
arrossando le spiagge. Verrà il giorno che il dio
non saprà più dov'erano le spiagge d'un tempo.
Ci si sveglia un mattino che è morta l'estate,
e negli occhi tumultuano ancora splendori
come ieri, e all'orecchio i fragori del sole
fatto sangue. È mutato il colore del mondo.
La montagna non tocca più il cielo; le nubi
non s'ammassano più come frutti; nell'acqua
non traspare più un ciottolo. Il corpo di un uomo
pensieroso si piega, dove un dio respirava.
Il gran sole à finito, e l'odore di terra,
e la libera strada, colorata di gente
che ignorava la morte. Non si muore d'estate.
Se qualcuno spariva, c'era il giovane dio
che viveva per tutti e ignorava la morte.
Su di lui la tristezza era un'ombra di nube.
Il suo passo stupiva la terra.
Ora pesa
la stanchezza su tutte le membra dell'uomo,
senza pena: la calma stanchezza dell'alba
che apre un giorno di pioggia. La spiagge oscurate
non conoscono il giovane, che un tempo bastava
le guardasse. Né il mare dell'aria rivive
al rispiro. Si piegano le labbra dell'uomo
rassegnate, a sorridere davanti alla terra.
Cesare Pavese, Lavorare stanca
segunda-feira, 10 de junho de 2013
Lego
Está tudo conformado
ao triste proprietário.
Mecânicas ovelhas,
na erva de plástico,
têm pastor de pilhas
e cão pré-fabricado.
Flores marginam esse
às peças-soltas prado.
Eléctricas abelhas,
obreiras sem contrato,
daquele herbário extraem
um mel supermercado.
A malhada, no estábulo,
quase manga de alpaca
(é A VACA, sabias?),
dá leite engarrafado.
No céu (para colorir)
a nuvem, pontual,
aguarda a vez de ser
chovida no nabal,
enquanto o Sol dardeja
na eira proverbial.
Já tudo afeiçoado
ao bom do proprietário
(ervas, bichos, moral),
ele conta com os seus
e espera sempre em Deus.
(«-Deste corda ao pardal?»).
ao triste proprietário.
Mecânicas ovelhas,
na erva de plástico,
têm pastor de pilhas
e cão pré-fabricado.
Flores marginam esse
às peças-soltas prado.
Eléctricas abelhas,
obreiras sem contrato,
daquele herbário extraem
um mel supermercado.
A malhada, no estábulo,
quase manga de alpaca
(é A VACA, sabias?),
dá leite engarrafado.
No céu (para colorir)
a nuvem, pontual,
aguarda a vez de ser
chovida no nabal,
enquanto o Sol dardeja
na eira proverbial.
Já tudo afeiçoado
ao bom do proprietário
(ervas, bichos, moral),
ele conta com os seus
e espera sempre em Deus.
(«-Deste corda ao pardal?»).
Alexandre O'Neill, A saca de orelhas
domingo, 9 de junho de 2013
O rasto do rasto
«Muitas vezes se disse que a experiência religiosa é a experiência de um êxodo; mas se se trata de êxodo, é provavelmente por ocasião de uma viagem de regresso. Não é sem dúvida graças a uma qualquer natureza essencial, mas o certo é que nas nossas condições de existência (Ocidente cristão, modernidade secularizada, estados de alma de fim de século preocupados com a ameaça de riscos apocalípticos inéditos), a religião é vivida como um regresso. É o retornar-se presente de qualquer coisa que pensávamos ter definitivamente esquecido, a reactivação de um rasto adormecido, o reabrir de uma ferida, o reaparecimento de um recalcado, a revelação de que aquilo que pensávamos ter sido Uberwindung (no sentido da superação, do devir verdadeiro e do pôr de lado decorrente) não é mais do que uma Verwindung, uma longa convalescença que de novo tem que acertar contas com o rasto indelével da sua doença. Se se trata de um regresso, este reaparecimento da religião não será acidental por relação com a sua própria essência? Não é como se - por uma razão histórica, individual ou social qualquer - nos tivesse acontecido simplesmente esquecê-la, afastarmo-nos dela (talvez com um certo sentimento de culpa), e como se, por uma razão igualmente fortuita, o esquecimento se tornasse agora de súbito mais raro? Mas semelhante mecanismo (haveria, neste caso, uma verdade essencial da religião que existiria algures, imóvel, enquanto os indivíduos e as gerações se limitariam a ir e vir em torno dela num movimento perfeitamente exterior e insignificante) já se tornou para nós impraticável em filosofia: se dizemos que uma tese é verdadeira, deveremos taxar de estupidez ou de absurdo todos os grandes ou menos grandes pensadores do passado que não a reconheceram como tal? O que significaria de outro modo que é de uma história da verdade que se trata (uma história do ser) não demasiado essencial quanto ao seu "conteúdo"... À luz destas considerações, parece desde já preferível a hipótese segundo a qual o reaparecimento, o regresso da religião na nossa experiência não é um dado puramente acidental que deveria ser posto de lado para nos concentrarmos simplesmente nos conteúdos que assim eis de regresso. Podemos, em contrapartida, suspeitar legitimamente de que o regresso é um aspecto (ou o aspecto) essencial da experiência religiosa.»
Gianni Vattimo, «O Rasto do Rasto», in A Religião
quinta-feira, 6 de junho de 2013
Aos meus alunos do 12º ano
Este
é o vosso último dia de aulas no Ensino Secundário, assim considerado de acordo
com o calendário lectivo. Este é o último dia em que vos encontro nas
circunstâncias específicas de uma sala de aula. Diz-se que estes dias são dias
de despedida. É verdade. Por esse motivo, costumam ser feitos balanços e demais
considerações acerca do passado. Neste caso seria de um passado comum que
convosco tive o privilégio de partilhar.
Contudo,
não é do nosso passado comum que me lembrei de vos falar hoje. Desse passado
permanecerão as memórias que trazemos nas nossas lembranças e que a todos nós
permitirão um dia convocar a nostalgia que nos alimenta nos momentos difíceis e
que nos consolam em direcção ao futuro individual que cada um de nós tem pela
frente.
O
meu tópico final que hoje vos apresento, a alguns ao fim de seis anos,
dirige-se ao futuro. A um futuro que, embora não tenha parecido muitas vezes,
sempre esteve presente nas nossas aulas, até porque, num certo sentido, as
pessoas de tenra idade ainda não têm passado e, apesar de viverem imersas num
presente que fervilha, criando a ilusão de que apenas ele existe, só têm
futuro.
De
qualquer forma, como tudo aquilo que é de facto essencial, o futuro de que vos
quero falar só pode fazer sentido se o conseguirmos contemplar de acordo com a
nossa História, que o mesmo é dizer, de acordo com os valores da tradição
cultural que nos molda e que, por sua vez, nós temos de moldar.
O
tópico de que vos falo, enfim, é a Liberdade.
Ocorreu-me
falar-vos de Liberdade, partindo de um autor antigo, de um dos maiores autores
que a nossa civilização alguma vez conheceu: Dante Alighieri.
Não
consigo conceber uma sociedade futura sem Liberdade e vocês serão os agentes
que hão-de transformar essa sociedade.
A
liberdade separa águas entre a cega escuridão infernal e a transparente
alvorada “de um zéfiro oriental” que acolhe Dante e Virgílio no Purgatório.
Esta é uma liberdade muito diferente daquela que nós, modernos, entendemos como
tal. A nossa liberdade é uma liberdade política, assente no abuso de uma
legislação ou de um poder opressor. É uma liberdade social, que resulta da
necessidade e da desigualdade. É uma liberdade pessoal, não condicionada, resultante
de uma realização pessoal de si, ou do prazer próprio. Falamos em liberdade de
voto, de consciência, de opinião. É destes conceitos que falamos quando
comumente falamos em liberdade. No entanto, quando falamos de Dante, a ideia de
liberdade não é de uma liberdade de alguma coisa, mas sim de uma liberdade que
provém de alguma coisa. Para Dante, a liberdade é o avesso da servidão. Numa
carta dirigida aos seus contemporâneos, o autor da Commedia enuncia quatro verbos de coacção que delimitam com
exactidão a ideia oposta à de liberdade. Os verbos são: dominar, obrigar,
aprisionar, proibir. Para Dante, a liberdade resulta de um contraste e, por
conseguinte, de um compromisso com o objectivo de ultrapassar a condição de
escravidão.
Ao
longo dos anos fomos lendo obras diversificadas. A literatura proporciona-nos a
possibilidade de pensarmos e de, através das ideias que vamos construindo,
desenharmos o nosso próprio destino, ou pelo menos de nos iludirmos perante a
possibilidade de dominarmos o mundo, mesmo que esse mundo seja o do nosso
quintal. Um quintal onde nos podemos sentir confortáveis, mas cuja ideia de
permanência não está imune à vulnerabilidade dos tempos.
Há
um par de anos, muitos pensariam impensável a supressão de direitos
fundamentais a que hoje em dia vamos assistindo. De tal modo essa perda se tem
processado de forma sistemática e precisa que, durante muito tempo, pareceu
indolor. Contudo, com o tempo, e por via dessas perdas acumuladas, a nossa
sociedade debilitou-se e a ideia de progresso imparável que durante muito tempo
moldou o pensamento do cidadão comum, deu lugar a uma época de incertezas.
Não
podemos dizer que não temos liberdade: de expressão, de voto, por exemplo.
Contudo, o sentido do conceito de liberdade tem sido esvaziado. Vivemos num
período histórico perigoso, movido pela necessidade. O homem que se quer livre
é aquele que não vive da necessidade de satisfação das coisas básicas de vida.
O homem que vive submerso na necessidade de satisfação daquilo que é básico
passa a ter em risco, para além dos bens de satisfação imediatos, algo que é
ainda mais importante: a sua dignidade.
O
ponto a que chegámos requer pessoas informadas e capazes de conceber juízos
críticos que proporcionem o restabelecimento de uma sociedade vigorosa e digna,
e, por conseguinte, Livre.
Como
podem observar, as notícias que vos trago não são as mais promissoras, porque
implicam um trabalho árduo de restabelecimento de uma ordem nova, de um mundo
novo em que os homens possam sentir-se de facto o centro das decisões mais
importantes das suas vidas. Essa tarefa está destinada a ser cumprida pela
vossa geração.
Desejo-vos
coragem, tenacidade, teimosia na prossecução da tarefa.
O
futuro está aí!
Resta-me
agradecer a paciência que sempre tiveram para comigo e a forma sempre educada e
gentil como me trataram ao longo destes anos em que a escola foi sempre um
lugar muito agradável para mim.
domingo, 2 de junho de 2013
Solidariedade
«É preciso aprender a partilhar com os outros o peso de um destino de massa, eliminando todas as futilidades pessoais. Cada qual quer ainda tentar escapar, mesmo sabendo muito bem que, se fugir, outro o há-de substituir. Mas que importa ser eu ou outro, este ou aquele? Tornou-se, de facto, um destino de massa, comum a todos, e temos de o saber [...]. Mas encontro-me sempre a mim mesma na oração. E rezar, posso sempre fazê-lo, mesmo num buraco. Este pequeno fragmento do destino de massa que tenho de carregar ponho-o às costas como uma trouxa, atada com nós cada vez mais fortes e cada vez mais apertados: faz corpo comigo, e trago-o pelas ruas.»
Etty Hillesum, Diário
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