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sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Suspeito que Camilo Castelo-Branco não tivesse um projecto prévio em relação às Memórias do Cárcere. Pelo menos no sentido de pretender determinar certos padrões de comportamento, com o seu texto. Camilo conhecia demasiado intimamente os diferentes e imprevisíveis matizes do comportamento das pessoas, para ter a veleidade de pretender antecipar ou influenciar comportamentos. Por isso, o seu texto contém descrições intrincadas, finas, das pessoas que nomeia. Sabendo da impossibilidade de determinar um modo de agir particular nos outros, porque ele próprio era dado às flutuações do momento que a vida lhe oferecia, restava-lhe descrever, como se fosse "em carne viva", processos e situações que aconteciam nas vidas dos outros e também na sua. De vidas entregues à circunstância e ao acaso derivado da sua condição. O livre-arbítrio a que o homem tem de dar resposta em todos os movimentos do seu espírito é assumido como uma vantagem, mas também como um modo de dar resposta à liberdade de proceder a escolhas e de reconhecer as dificuldades que a elas muitas vezes são inerentes. É a liberdade do espírito, do seu próprio e dos outros que é mostrada ao longo de Memórias do Cárcere.

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